Rolê Musical

Um belo, mas curto, estudo sobre Tom Zé

terça, 10 de agosto de 2021

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A música de Tom Zé é um dos veios mais ricos da MPB, a que intérpretes recorrem bem menos do que deveriam. Talvez porque Tom imprima às suas composições tanto do seu estilo de canto, quanto da sua personalidade, que as interpretações soam como definitivas. Mas não há canção que não admita releitura. O catarinense (criado no Rio) Madu Madureira, ou apenas Madu, no EP "Estudando Tom Zé" (Independente) ratifica a asserção. Em "Dharma", seu segundo disco, ele fez uma incursão pela obra do baiano, com "Vai (Menina Amanhã de Manhã)". Tom Zé participou da gravação.

Neste EP (que bem que poderia ser um álbum), ele ganha aval ainda maior de Tom Zé, que lhe cedeu uma canção inédita, "Sandálias", das primeiras que compôs, ainda nos tempos de Irará, sua cidade natal. Foi feita para uma paixão adolescente: “O nome dela era Dalma. Eu fiz a canção para ela. Tentei tocar, cantar não consegui. A voz não saía… Eu teorizava, afinava o violão e… não saía. Dalma foi ficando nervosa. Fui para casa com o fracasso na mão", conta Tom Zé, que escreveu um texto para a capa do disco: “O Guilherme Gê me mostrou. Eu vi que até canções abandonadas – porque não tinham condição comercial – até estas, Gê metamorfoseou em verdadeiras belezas. Eu fiquei fã, sou fã, ouço todos os dias. E espero que vocês também ouçam o EP do Madu, incentiva o baiano. O Guilherme Gê, a que se refere é o produtor de Madu.

“A canção é bem simples, acho que é mais ou menos assim, um abraço querido”, a voz de Tom Zé abre o EP, com o trecho do áudio que ele mandou por whatsapp, com a citada canção "Sandálias". Esta canção que agora vem a público é de uma singeleza que a aproxima de um acalanto: ”não gosto de chão descalçado/porque enche de areia/os pés do meu bem”, os versos finais. "Mãe (Mãe Solteira)", parceria de Tom Zé com Elton Medeiros, é recriada com um arranjo que é como uma trilha para a história que é contada na canção, que tem participação da cantora de Elisa Gudin.

O clássico "Estudando o Samba (de 1976)" é o disco de Tom Zé preferido de Madu, o que aponta o título parafraseado do EP. Desse álbum ele incluiu também "Solidão", no original um sambinha de letra intensa com arranjo à Antonio Carlos & Jocafi, aqui é um samba de batida quebrada. Madu acentua em levada de rock, uma das canções mais poderosas de Tom Zé, "Esquerda, Grana e Direita" (do álbum "Vira Lata na Via Láctea", de 2014), que dá o tom político do disco, como explica Madu: “Essa canção para mim simboliza muito bem o momento político que estamos vivendo. Me toca como um resumo da crise democrática que passamos de 2016 até agora.” O EP é fechado com o samba "Se o Acaso É Chorar", do álbum Tom Zé, de 1972 (parceria com Perna, o tecladista baiano Antônio Perna Fróes). Esta faixa tem participação da cantora niteroiense Daíra. Um belo reestudo de Tom Zé, que merece ser continuado. 

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