Almanaque do Rock Brasileiro

Tudo Azul: O Rock na música popular

quarta, 27 de abril de 2022

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Todo artista tem uma tensão para o segundo disco. Quando o primeiro dá certo, o segundo sempre gera uma insegurança, mas parece que isso não aconteceu muito com Lulu Santos.

Lulu era um cara que já estava pronto para o sucesso. Começou de baixo, enfrentando os perrengues com o Vímana no final dos anos 70 (banda formada também por Ritchie e Lobão), onde viu que o Rock no Brasil só daria certo com uma boa pegada de POP, e, assim como seus colegas, fez mudanças necessárias e se tornou um grande sucesso nos anos 80, sendo um verdadeiro “Hitmaker”.

Para se ter uma ideia, até meados dos anos 2000, as trilhas sonoras de novelas eram muito mais relevantes do que hoje em dia, em tempos pré-Spotify; as rádios e as trilhas traziam o que era mais relevante no Brasil.

E até o ano de 1984, quando foi lançado o seu terceiro disco, “Tudo Azul, Lulu já estava presente em 5 trilhas de novela, fora trilhas de filmes e clipes que alavancaram ainda mais a carreira de Luiz Maurício neste início dos anos 80.

Seus álbuns “Tempos Modernos” de 1982 e “Ritmo do Momento” de 1983 foram um verdadeiro sucesso de vendas, e o ano de 1984 seguiu na esteira.


Prólogo

O movimento Rock já estava formado e até bem consolidado em 1984, comercialmente, tanto que no ano seguinte teríamos o Rock in Rio. A Blitz já era uma realidade, vivia seu auge e já caminhava para o seu fim, apesar de ainda ter lenha para queimar. Barão Vermelho já explodia com “Pro dia nascer feliz” e caminhava para o sucesso com “Bete Balanço", trilha sonora do filme homônimo estrelado pela atriz Debora Bloch. Marina era um verdadeiro sucesso e flertava entre MPB e o Rock, que seria mais presente na carreira da cantora a partir de 1984. Dentre muitas outras coisas que aconteciam, como Kid Abelha no Rio de Janeiro, Titãs em São Paulo, Legião Urbana em Brasília.

Já havia um caminho pisado, por outros artistas, e pelo próprio Lulu, de um jeito ou de outro sua música traduzia esse momento, o que se dizia “ROCK”. Talvez não houvesse outra pessoa com tamanha consciência popular como Lulu Santos, seja em músicas radiofônicas ou em músicas para se compor um álbum. Lulu não foi um expoente do Rock Brasil, mas sim do Rock brasileiro como música popular. Infelizmente isso é pouco reconhecido.

E talvez um pouco da razão deste sucesso tenha sido explicado pelo artista em seu canal no YouTube durante a auto-resenha do disco "Tudo Azul":

“Eu sempre quis fazer uma coisa que ao mesmo tempo tivesse uma contemporaneidade internacional que o rock conferia aos procedimentos, mas que tivesse uma estranheza para o mundo do Rock”.

De fato ele conseguiu esse feito com o disco “Tudo Azul”. Tudo azul para o Rock.

Esse disco como diz o próprio Lulu em entrevista na época do lançamento “É um grande exercício de liberdade individual”, o que era raro nos anos 80, em especial depois de dois grandes sucessos. Mas se não fosse essa liberdade não haveria nascido um grande disco como esse seu terceiro trabalho.

Como todo crítico tem que falar mal de alguma coisa, então vamos começar falando mal para depois falar bem.

Na minha “Tudo Azul”, deixava claro que haviam algumas fórmulas começando a se desgastar, mas que ainda rendiam bem. Nada que convém entrar no mérito, mas, apenas para ratificar, reparem como “O Último Romântico” lembra bastante “Certo Alguém”, do álbum anterior. Hoje em dia essas canções até são tocadas em medley nos shows. Mas sejamos honestos, se você faz um bom trabalho, é elogiado por isso, todo mundo gosta, que mal tem em repetir o feito? Poucas pessoas têm uma música com um peso e um lirismo como se encontra em o “O Último Romântico”. Se você puder, ouça a versão deste disco e acompanhe com a letra, para você entender o que eu digo.

Outro feito incrível deste álbum foi “Certas Coisas”. Seja criança, adolescente ou adulto, todo mundo já passou por isso: “Eu te amo calado/Como quem ouve uma sinfonia". Se você nunca amou, não ouça essa música, você não vai entender. No entanto, o lado diferentão do disco fica para a reedição de “O Calhambeque", sucesso de Roberto Carlos. Lulu conseguiu dar uma nova identidade para a música sem perder o tom de Jovem Guarda.

Por último e mais inovador, é a faixa título “Tudo Azul”, em um tempo em que as tribos não se juntavam como hoje em dia e você dificilmente encontraria um feat do Luiz Gonzaga com o Barão Vermelho (peguei um exemplo bem extremo, eu sei!). Fazer um rock que misturava baião e lançar como música de trabalho poderia ser um suicídio artístico e te deixar mal com todo mundo, seja do rock ou do baião. Porém, aquela música que fez e faz muito sucesso até hoje, mostra que a união faz a força.

Por fim, uma declaração do próprio Lulu em seu canal no YouTube pode definir bem esse trabalho.

“Esse álbum é um pouco cada música pra cada lado, mas todas elas indicam um todo”

E sim, esse é um disco que reúne um pouco de todas as tribos num vulcão de estilos que forma uma obra prima do Rock e da música popular brasileira.


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