Música

Rocinante lança disco com Sergio Krakowski Trio & Jards Macalé homenageando o samba de Zé Keti

quarta, 17 de janeiro de 2024

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Com nove faixas, o álbum Mascarada é lapidado desde 2019 entre Nova York e Rio  de Janeiro e será lançado em outubro de 2024 

Considerado um dos mais habilidosos percussionistas da atualidade, Sergio Krakowski e seu trio convidaram uma das figuras mais ousadas da música brasileira,  o brilhante Jards Macalé, para gravar um dos bambas do samba, o grande Zé Keti. Batizado de Mascarada, a obra ganha o mundo no dia 17 de janeiro, nos formatos  digital e LP pela gravadora carioca Rocinante.  

Zé Keti é o nome artístico do cantor e compositor carioca, José Flores de Jesus  (1921 – 1999). O artista portelense, que começou a atuar na década de 1940 na ala  dos compositores da escola de samba Portela, legou à música brasileira uma herança  de mais de 200 composições e uma contribuição imensurável ao samba de raiz.  Segundo Sergio Krakowski, a ideia de gravar um disco em sua homenagem surgiu a  partir de experimentações em seus concertos: “Após nosso primeiro disco começamos  a introduzir alguns sambas no nosso show, com a nossa visão, entrando no lugar do  standard de jazz. E a partir disso foi um processo natural ir por esse caminho e  explorar esse legado de Zé Keti”. 

Jards Macalé como solista foi a escolha certa para o trio formado pelo guitarrista  Todd Neufeld e pelo pianista Vítor Gonçalves. "Todd já era fã do Jards e deu a ideia  de chamá-lo para cantar. A gente sentia que a exploração desses sambas não precisava  ser apenas instrumental e a abordagem de Jards também é totalmente fora do  tradicional - como a nossa", explica o pandeirista. 

Para Jards Macalé, o convite foi uma forma de relembrar o passado e reviver um  símbolo da música brasileira. “Conheci o Zé Keti quando participei como violonista  no Teatro Opinião, lá em 1960. Nos últimos anos, ninguém estava falando de Zé Keti e muitas pessoas não conhecem sua obra. Foi um convite maravilhoso do trio. Me  chamaram para Nova York e eu fui!”, conta o artista.  

O álbum Mascarada é resultado dessa mistura de experiências e vivências musicais.  “Sinto que é Zé Keti com uma visão muito contemporânea, particular. Fizemos um  disco muito bonito e, se puder usar essa palavra, ‘estranho’”, diverte-se Macalé. 

“Gravar com Jards foi incrível, um aprendizado imenso e uma conexão verdadeira.  Ele é fundador do que a gente acredita ser a Música Brasileira. Ter ele ao nosso lado é  mais que uma honra, é uma reconexão com a experiência real de tocar o samba com  os mestres, como uma ponte de energia sonora”, alega Sergio. 

“Tentamos nos conectar com algo realmente autêntico, sonoro, sem usar padrões  superficiais do que é o samba, o jazz, o pandeiro, a guitarra, o piano ou de como deve  soar a voz. O que queremos fazer é justamente abolir as expectativas e se jogar nessa  investigação junto com o ouvinte”, completa. 

O álbum é composto por sete faixas e a pintura reproduzida na capa é de autoria de  Iberê Camargo. No repertório, entraram sambas clássicos do Zé Keti, como Opinião,  Acender das Velas e Peço licença, além de “Improvisação” música inédita composta  por Jards Macalé, Todd Neufeld e Sergio Krakowski
Mascarada foi gravado por Pepê Monnerat no Brooklyn Recording (NY) com direção  artística e produção musical de Sergio Krakowski e Todd Neufeld

Faixas 

Lado A 
1. Acender as Velas  
(Zé Keti) 
2. Opinião  
(Zé Keti) 
3. O Meu Pecado  
(Zé Keti e Nelson Cavaquinho
4. Improvisação 
(Jards Macalé, Todd Neufeld e Sergio Krakowski) 

Lado B 
5. Mascarada  
(Zé Keti e Elton Medeiros) 
6. Prece de Esperança  
(Zé Keti e citações de Walter Franco) 
7. Peço Licença (Zé Keti) 

SOBRE JARDS MACALÉ 
Desafinar o coro dos contentes parece ter sido tarefa que o carioca Jards Macalé  assumiu para si. Quando pedimos a delicadeza, ele nos traz o ruído; quando o  esperamos delirante, lá vem ele reverente, sempre como se dissesse: Eu só faço o que  quero – aliás, título de sua biografia escrita por Fred Coelho. 

Falar da trajetória de Jards é um passeio à memória da música e da cultura brasileira.  Dos encontros com uma Maria Bethania recém-chegada da Bahia no Rio, as  colaborações com Vinícius de Moraes, Nara Leão, Clara Nunes, a presença e  participação na bossa nova, no tropicalismo, no pós-tropicalismo e na própria  construção do Brasil democrático que conhecemos. Macalé tem sua biografia  atravessada por tantos grandes nomes, como Caetano Veloso, Gal, Paulinho, Chico  Buarque, Milton Nascimento, Edu Lobo, Frejat e Raul Seixas. Tem ainda uma forte  representação também no cinema nacional, assinando trilhas sonoras de clássicos  como Amuleto de Ogum e Tenda dos Milagres de Nelson Pereira dos Santos, onde  também participa como ator. Também colaborou na trilha de Macunaíma de Joaquim  Pedro de Andrade. Foi ator em curtas e longas como Tira os Óculos e Recolhe o  Homem, de André Sampaio e Big Jato de Cláudio Assis, além de ser o mote dos  documentários Jards, um morcego na porta principal de Marcos Abujamra e João  Pimentel e Jards de Eryk Rocha. 

Depois de jogar xadrez na Sala Cecília Meirelles com John Cage, cantar com Jackson  do Pandeiro, dividir projetos com Naná Vasconcelos (o álbum Let's Play That), com  Guinga, Zé Renato e Moacyr Luz (o show/DVD Dobrando a Carioca) e com vários  artistas da cena recentíssima da canção brasileira (Juçara Marçal, Ava Rocha, Kiko  Dinucci, Rômulo Fróes, Rodrigo Campos, Tim Bernardes e outros que surgem em  Besta Fera, de 2019), Macalé ampliou ainda mais o rol de seus parceiros, dividindo  pela primeira vez um trabalho com o lendário pianista e compositor João Donato:  Síntese do Lance – lançado por nossa gravadora Rocinante em 2021. Esse "encontro  de dois iconoclastas de estirpe", segundo a definição do crítico Tárik de Souza, foi  indicado ao Grammy Latino na categoria de Melhor Álbum de Música Popular  Brasileira de 2022. 

Seguindo o embalo Rocinante, uma das próximas empreitadas do artista será o disco  “Mascarada”, em que Jards Macalé e o trio do pandeirista Sergio Krakowski  oferecerão ao ouvinte interpretações “free líricas” de sambas de Zé Keti.  

SOBRE SÉRGIO KRAKOWSKI E TRIO
De um pandeirista carioca, talvez sejam esperadas coisas diferentes das que Sergio  Krakowski faz. Em suas mãos, o pandeiro, sem deixar de ser ele próprio, vira surdo,  rum, tamborim e bateria eletrônica; trama polirritmias, borda contrapontos e interfere  nas harmonias. Krakowski vem criando toda uma poética nucleada nesse tradicional  instrumento. Uma poética: um  discurso coeso e aberto a riscos que, ao longo dos anos, multiplica suas linhas de  investigação e se desdobra nos mais diversos trabalhos.  

Enquanto descobria batidas de funk com Sany Pitbull, dividiu cena fazendo choro  com pegada contemporânea no Tira Poeira e rodou a Europa com workshops de  percussão, Sérgio acumulou ainda os diplomas de Bacharel e Mestre em Matemática  pela UFRJ e um doutorado em Computação Musical, onde se dedicou ao  desenvolvimento de softwares que permitem que o pandeiro controle a projeção de  vídeos, a geração de loops e efeitos, estabelecendo um diálogo em tempo real entre  percussionista e máquina.  

Entre a academia e a música, Sérgio experimentou misturar funk com choro, teve  parcerias com nomes com Elza Soares, discos pela gravadora Biscoito Fino,  apresentações nos Estados Unidos e Europa. Em 2016, lançou seu primeiro disco, A  Fundação da Ilha, onde faz registro da sua imersão no universo das modulações  métricas - fator estruturante da música dos batás da santeria cubana, aqui aplicado  sobre repertório de lavra própria.  
Mascarada é o segundo trabalho do trio, em ode aos sambas lendários de Zé Keti com  interpretação sensível somada à voz e violão de Jards Macalé. O resultado? Uma  fricção de estilos ásperos em torno de um repertório clássico

  

SOBRE A GRAVADORA E FÁBRICA ROCINANTE


A gravadora e fábrica de discos de vinil Rocinante foi criada em 2018, em Petrópolis.  Trata-se do fruto do encontro de Sylvio Fraga com o conhecimento técnico do  engenheiro de som Pepê Monnerat. A gravadora lança discos em vinil e em formato  digital, com destaque para a canção e música instrumental brasileira na composição  de seu catálogo.  O disco de vinil de qualidade produz um som especial – sem compressão – e é,  portanto, um meio de reprodução importante para os objetivos da gravadora:  expressar a singularidade e intenções estéticas de cada artista. “Nossa bússola é a  comoção diante do que ouvimos. Atuamos principalmente nos campos da canção e da  música instrumental brasileiras. Lançamos os discos em vinil, prensados na nossa  própria fábrica com prensas modernas Newbilt, e também em formato digital”,  comenta Sylvio Fraga, músico e sócio. 


No romance “Dom Quixote” de Cervantes, Rocinante é o nome do cavalo do  protagonista. Portanto, de acordo com os sócios, a gravadora é uma aventura que se  assume quixotesca. No pool de artistas representados pela gravadora, o brilhantismo  de Jards Macalé, Bernardo Ramos, Erika Ribeiro, João Donato, José Arimatéa,  Marcelo Galter, Ilessi, Nelson Angelo, a obra de Letieres Leite + Quinteto / Orquestra  Rumpilezz, Thiago Amud e o próprio Sylvio Fraga.  


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