Prosa & Samba

Percussão e Paixão: a arte de Marco Bosco

segunda, 11 de dezembro de 2023

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Nascido em dia de Sol, mas batizado pela noite. Um filho pródigo da madrugada, eu acredito que este seja o recorte melhor para falar sobre este gênio inquieto da percussão.  Marco Bosco é filho de um alfaiate e de uma costureira, ele cresceu  na cidade de Torrinha (SP), mas foi nos primórdios de sua adolescência na cidade de Barra Bonita (SP) que ele teve contato com a música, primeiramente a corneta e depois a percussão.

O jovem Bosco.

O jovem Bosco fez faculdade de linguística na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a qual cursou por um ano, entre 1978 e 1979.  Enquanto fazia a faculdade,  estudou teoria musical com Paulo Simões Silva e José Ulisses Arroyo, ambos professores e músicos integrantes da Orquestra Sinfônica Municipal de Campinas/SP. Nessa época também começou a atuar profissionalmente como músico na noite de Campinas. 


Faixa de Airto Moreira que fez o jovem se apaixonar por percussão

Logo o jovem aportou nas noites paulistanas e aqui aprimorou seus conhecimentos, no bairro do Bixiga ele conheceu a Escola de Samba Vai-Vai e se apaixonou pela sonoridade das cuícas, surdos e tamborins. Aqui ele começou a gravar nos estúdios Pauta e Vice-versa, estudou  percussão sinfônica com Cláudio Stephan, percussionista da Orquestra Sinfônica  Municipal de São Paulo. Neste período foram mais de 500 trabalhos voltados ao mercado publicitário e colecionou amigos.

Eu poderia ficar aqui parafraseando palavras bonitas e jogar confetes para ele, mas a sua história é rica demais para que não mereça recortes:

Bosco e sua caminhada repleta de amigos

Ouso dizer que Santa Cecília, sempre abençoa aquele que se torna devoto à música. Não foi diferente com Bosco, na década de 80, ele formou com Ruriá Duprata Banda Acaru e durante uma viagem a Tokyo gravaram o álbum  “Live at Hot Crocket” (RCA Victor), este disco teve uma grande distribuição na Europa. 

Ele retorna ao Brasil, em 1981,e lança, com o grupo Acaru, o álbum  “Aqualouco” (Café/FIF), segundo disco do grupo.

Em 1983, Bosco gravou o álbum solo “Metalmadeira” (Arco-Íris/Odeon) com a participação dos amigos Belchior, Luli & Lucina, Ruriá Duprat, Nico Resende e Nico Assumpção.

Em 1986 gravou “Fragmentos da Casa” (Carmo/Odeon), seu segundo álbum solo com a participação de Egberto Gismonti, Oswaldinho do Acordeom e Paulo Calasans, entre outros.

Em 1990 mudou-se para o Japão. Lá, começou a estudar percussão japonesa com “O Edo Sukeroku Taiko”, tradicional grupo do Japão. Também fez trabalhos para a Rádio Televisão Nacional do Japão (NHK) em transmissões domésticas e BS satélite HiVision para a Ásia e Europa.

?Bosco e o Grupo "Origem"

Em 1991 lançou seu terceiro álbum solo “Hánêreá-Power of Nature” (JVC-Japan), baseado no lendário guaraná da tribo amazônica Sateré-Maué. O álbum teve a participação de Cesar Camargo Mariano, Sebastião Tapajós, Pique Riverte, Walmir Gil, Ruriá Duprat e Paulo Calasans.

Em 1993, lançou “Tokyo Diary” (New Frontier), quarto disco solo, gravado em Tokyo, Los Angeles e São Paulo com a participação de Oscar Castro Neves, Don Grusin, Alex Acuña, Jane Duboc, Flora Purin, Airto Moreira, Jimmy Johnson, Ricardo Silveira, Gary Meek, Paulo Calasans, O Edo Sukeroku Taiko e outros. O álbum integrou o projeto Pioneer 3D Museum LD Rom.

Em 1994, lançou, no Japão, o single “Soccer Alegria” (Toshiba/EMI).

Em 1995, teve uma experiência como ator com o diretor sino-americano Ping Chong e sua companhia em Tokyo no Teatro Documentário “Gaigin – Undesirable Elements”, em comemoração aos 50 anos do fim da segunda guerra.

Em 1996, trabalhou como produtor para Media Garden Inc. e como diretor de repertório para Music.Co.Jp Inc.

Em 1997 produziu, para a mesma  companhia, a gravação ao vivo dos concertos de Airto Moreira e Flora Purin no Ronnie Scott’s Club em Londres, e também Tsuyoshi Yamamoto Quartet e Guilherme Vergueiro & Marco Bosco no Tatou Club em Tokyo.

Em 1998 lançou “There Will Be No Money Today” (Ape’s/Sony-Japan), seu quinto trabalho solo com a participação de Tsuyoshi Yamamoto, Casey Rankin, Paulo Calasans, Cisão Machado, Marcelo Mariano e Eiki Nonaka.

Em Maio de 2000, veio ao Brasil como percussionista na banda da cantora norte-americana Nina Simone e voltou definitivamente ao país. Fundou a gravadora Rainbow Records com o maestro Ruriá Duprat.

 Grupo Balaio e Randy Becker

Em 2001 gravou o álbum “Techno Roots”, lançado no final de 2001, com versões techno das músicas de Jackson do Pandeiro com a participação de Egberto Gismonti, Dominguinhos, Marlui Miranda, Jean Garfunkel, Genival Lacerda, Vicente Barreto, Fuba de Taperoá e Miltinho Edilberto entre outros.

Em agosto de 2002 desenvolveu o projeto “Arte nos Trilhos”, em Torrinha – SP, sua cidade natal. O projeto era voltado para a pesquisa de ritmos e a recuperação das atividades musicais junto a crianças, adolescentes e jovens; formando um grupo de percussão sonoramente baseado em latas de óleo de 20 litros.

Em 2004 retornou ao Japão e gravou o álbum “Live at the Brazilian Embassy”, voltado para Jazz Standards e Bossa Nova. O álbum foi gravado ao vivo no auditório da Embaixada Brasileira em Tokyo com a participação do internacional pianista japonês de jazz Tsuyoshi Yamamoto e a cantora americana D’nessa. O lançamento foi em junho de 2005.

Em 2006 tocou e produziu para o mercado japonês o álbum “Depois do Nosso Tempo”, de Sonia Rosa. O álbum foi gravado nos EUA, com a participação de Cesar Camargo Mariano, Oscar Castro Neves, Romero Lubambo e Ivan Lins entre outros. No mesmo ano, participou do álbum do DJ Taro e co-produziu o primeiro álbum para o Japão do violonista  brasileiro Yamandu Costa.

Em 2008, trabalhou para Tokyo Conrad Hotel e produziu para o mercado fonográfico Brasileiro e Japonês, o álbum "Vicente", de Vicente Barreto, também distribuído mundialmente pela internet para download. Além de Bosco sempre estar antenado, a consequência de seu trabalho foi reconhecida. 

Bosco e o Grammy Americano

Em fevereiro 2009, o álbum “Randy in Brazil”, produzido originalmente para a gravadora a qual Bosco era sócio de Ruriá Duprat, recebeu o Grammy americano. na categoria Melhor Álbum de Jazz Contemporâneo.  

No mesmo ano, dirigiu e produziu o concerto e a gravação de “Oscar Castro Neves live at Blue Note Tokyo”, no Japão, com os convidados especiais Airto Moreira e Leila Pinheiro. Também produziu, no Brasil e EUA, o álbum "Flor de Fogo", de Chico Pinheiro, lançado internacionalmente como “There’s a Storm Inside”, com as participações especiais de Dianne Reeves e Bob Mintzer.

Ano após anos, Bosco foi construindo um novo cenário na música e consolidando seu nome no mercado internacional. Em 2010, trabalhou pela primeira vez em rádio com o programa diário “Amazon Space” na Amazonas FM em Manaus, AM. Também coordenou e co-produziu gravações de Seigen Ono em projeto ligado à Universidade de Waseda em Tokyo. O projeto era o desenvolvimento de um novo sistema de gravação em alta definição. Os testes eram feitos com sons da natureza da Floresta Amazônica e com cantos indígenas.

Em 2011, como representante brasileiro da CT Music & Cendi Music/Japan co produziu, com Paulo Calasans, o projeto “Raiz”, de Leila Pinheiro, com repertório e temática voltados para a Amazônia. O álbum concorreu ao Grammy Latino na categoria Melhor Disco de MPB em 2012.

Em 2012 co-produziu e lançou internacionalmente o álbum “Believe What I Say – The Music of Ivan Lins”.  Além de Ivan Lins, participaram também  Simoninha, Jair Oliveira, d’Nessa, Luciana Melo, Charito, Carla Vallet, Zé Colmeia & Dom Pixote entre outros. Ainda em 2012, aconteceu a produção e o lançamento do álbum “Amores”, do poeta e cantor amazônico Nilson Chaves.

Em 2014 lançou o álbum duplo “33”, uma coletânea para comemorar os 33 anos de carreira em gravações.

Em 2015, produziu, co-dirigiu e tocou no "Tributo a Oscar Castro-Neves", com as participações especiais de Alaíde Costa, Leny Andrade e Sebastião Tapajós. No mesmo ano, começou na China, com o baterista Leonardo Susi, o quarteto instrumental Balaio. O quarteto fez turnê com 28 concertos em Hong Kong e China em setembro/outubro de 2015.

Marco Bosco 

Em abril de 2016 o Governo do estado de São Paulo e a Secretaria da Cultura apresentaram o álbum “Marco Bosco e Paulo Calasans ONLINE”. Nesse ano, aconteceu a turnê “Balaio Convida Randy Brecker”, com o repertório do álbum “Randy in Brasil”.

Em 2017, o Balaio retornou à Ásia e à Europa para mais shows da banda e também com o trompetista americano Randy Brecker. Durante a Balaio Ásia Tour, em 2017, foi gravado o álbum “Balaio” com as participações especiais de Mike Stern (guitarra), Randy Brecker (trompete), Nils Landgren (trombone), Paulo Calasans (teclados) e Zeca Baleiro (voz).

Em 2018, o Balaio lançou o primeiro álbum  ao vivo. O álbum foi um registro da turnê  do show “Balaio convida Mike Stern” no Brasil.

Em 2019, Marco Bosco lança na Europa o disco “Metalmadeira”, de 1983. Lançou também dois remixes Electricwood I e Electricwood III das músicas do álbum em versão eletrônica com as participações de Paulo Calasans, da gravação original com Belchior e o contrabaixista Nico Assumpção. No mesmo ano, ministrou um curso de produção e distribuição por 2 meses na Escola Superior de Tecnologias e Artes de Lisboa – ESTAL. Ainda em 2019, produziu o álbum “A Música Cantada de Paulinho Nogueira” com Regina Dias, Ulisses Rocha, Sizão Machado, Nelson Faria e Luiz Carlos Sá. No mesmo ano, fez outra turnê na Ásia e Europa com o Balaio.

Em 2020 produziu o álbum e o concerto de "A Música Cantada de Paulinho Nogueira", da cantora paulista Regina Dias, com a participação especial de Luiz Carlos Sá e Flávio Venturini. Também produziu o álbum da artista afro-cubana Danae Estrela. Já em 2021, produziu a cantora Afro-Portuguesa Sandra Fidalgo em seu Show-Live e single.

 Bosco em show

Em 2022 produziu o álbum “Não Negai", de Regina Dias em um tributo a Luis Vagner, o Guitarreiro pai do Samba-Rock. No mesmo ano, fez o relançamento na Europa e no Brasil do seu álbum “Fragmentos da Casa” (1987), remasterizado por Ricardo Carvalheira.

Com um legado que inclui a parceria da faixa “Last Christmas” com a Lenda da música pop George Michael, Bosco transcende o melhor da nossa cultura com o mundo. 


E está com um novo trabalho no forno… vem ai "Marco Bosco 40 e Manos" com a participação de muita gente boa. Falar sobre ele é chover no molhado, mesmo chegando na casa das 70 primaveras de vida, ele está sempre antenado às novidades e nos surpreendendo. Nessa semana, ele foi homenageado como um dos grandes nomes da percussão Brasileira pelo site “Nova Brasil Fm” e viu seu nome ao lado de Chico Batera, Djalma Corrêa, Naná Vasconcelos entre outros. 

Bosco é um vencedor pela sua história de vida e por sua construção em nome da cultura popular e nós só podemos louvar e celebrar a vida deste músico. Deixo aqui um presente aos leitores, um spoiler de seu novo trabalho na voz de Jair Oliveira


Viva a música,

Viva Marco Bosco!


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