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Oba: É o Bafo da Onça que Acabou de Chegar

quarta, 31 de janeiro de 2024

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O bairro do Catumbi faz parte da centralidade de festas religiosas e do carnaval carioca [no coração do bairro surgiu o Sambódromo] , como um dos principais territórios de festa de sociedades, ranchos, cordões, escolas e blocos de carnaval nas primeiras décadas do século XX. Uma das maiores referências culturais do Catumbi e da cidade, é o bloco carnavalesco Bafo da Onça. Seu principal fundador foi Sebastião Maria; um sujeito que, durante os dias de carnaval, formava uma espécie de “bloco do eu sozinho” ao sair pelas ruas do bairro fantasiado de onça-pintada. Profissionalmente, era carpinteiro, o que lhe rendeu um sustento digno, porém, sua grande paixão era o Carnaval. Ocorre que o carpinteiro bebia tanto durante os dias de folia que acabava ficando com um hálito pesado. Até que, uma rapaziada do Catumbi, liderada por Carpinteiro, resolveu, em 12 de dezembro de 1956, criar um bloco de carnaval. Todos sairiam fantasiados de onças-pintadas. O nome do bloco já nasceu pronto: Bafo da Onça.

Sebastião Maria nunca mais se livrou do apelido, e acabou levando a coisa na esportiva. O Bafo cresceu e virou atração do carnaval da cidade. Em 1960, o Bafo da Onça era anunciado pelo Jornal O Globo como “o maior e mais bem organizado bloco da cidade”. Ao longo de sua história a popularidade do Bafo da Onça foi tamanha que o próprio Bira Presidente, fundador e eterno dirigente do Cacique de Ramos, admite que o bloco Cacique de Ramos foi inspirado no Bafo da Onça, mas também criado com o objetivo de superar as onças-pintadas do Catumbi. Vamos e venhamos: o carioca é fascinado por aglomerações e ajuntamentos. Espiando as décadas de 1960, 1970 e 1980, um dos grandes fascínios da festa carioca era a peleja entre o Bafo da Onça e o pessoal do Cacique de Ramos. Os blocos transformavam a Avenidas Rio Branco, Antônio Carlos ou Presidente Vargas em um cenário de disputas nem sempre circunscrito à magia dos enredos e fantasias. O trio elétrico: bairro, o bloco e a festa carnavalesca construíam uma identidade urbana peculiar na geografia da cultura do Rio de Janeiro.

No Carnaval de 2023, embalada pela bateria do Mestre Fafá, a escola de samba Acadêmicos do Grande Rio, desceu o Sambódromo no bairro do Catumbi, com um enredo em homenagem ao cantor e compositor Zeca Pagodinho ? “Ô Zeca, o pagode onde é que é? Andei descalço, carroça e trem, procurando por Xerém, pra te ver, pra te abraçar, pra beber e batucar”. ? conquistando a 6ª colocação entre as 12 concorrentes do certame do Grupo Especial do Rio de Janeiro. A colocação é o de menos. O transcendente era a fantasia da bateria, assim intitulada: “O Grande Duelo: Bafo da Onça e Cacique de Ramos”. Nesse ritmo, a Invocada (denominação da bateria da Grande Rio) foi dividida em dois lados. Mas os leitores sairiam frustrados se nós não contássemos uma singularidade dos componentes da Invocada: uns estavam vestidos de Cacique de Ramos, em vermelho e branco; e outros vestidos de Bafo da Onça, em amarelo e preto. Outro dado biográfico da bateria da Grande Rio, a Invocada do Carnaval de 2023: ela saudou ainda, em larga medida, a irmandade de Ogum e Oxóssi, santos já homenageados por Bafo da Onça e Cacique de Ramos. A razão para isso é muito simples: onde está Ogum deve estar Oxóssi, (onde está o Bafo deve estar o Cacique), as suas forças se completam, unidos, são imbatíveis.

É francamente improvável compreender a história do Carnaval – de rua ou de avenida do Rio de Janeiro – sem o Bafo da Onça.  Como imaginar o Carnaval carioca sem as carraspanas memoráveis das Onças do Catumbi e os Caciques de Ramos? É um bocado difícil, não é mesmo?  Finalmente, só me resta, sem desafinar, seguir o carro-chefe do Bafo da Onça “Oba” (composição de Osvaldo Nunes): 

 “Nessa onda.
 Que eu vou.
Olha a onda Iaiá 
 É o Bafo da Onça
Que acabou de chegar".   


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