Jogada de Música

O tri cantado e tocado na festa dos seus 50 anos

quarta, 03 de junho de 2020

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No próximo dia 21 de junho, o futebol brasileiro comemora o cinquentenário de uma de suas mais emblemáticas conquistas: o tricampeonato mundial no México, em 1970. Pode-se até mesmo dizer que é o mais destacado de todos os títulos, pois além do extraordinário time inicialmente montado por João Saldanha para as eliminatórias, em 69, e comandado posteriormente por Zagallo, que o substituiu às vésperas do Mundial, o tri garantiu a Taça Jules Rimet em definitivo para o Brasil. Ter sido roubada e derretida – ou não – 13 anos depois é uma outra história. 

A despeito de sobreviver sob uma ditadura militar de direita, o país passava por um período extraordinário no futebol e na música, com surgimento constante de imensos talentos por toda parte (alguns da área musical perseguidos, presos, torturados e exilados). E a relação entre compositores e jogadores era muito grande, tanto que Wilson Simonal foi com a delegação brasileira para o México, o que já contamos aqui.

O Brasil era mesmo o país do futebol, como compuseram Milton Nascimento e Fernando Brant, para fazer parte da trilha sonora do filme “Tostão, a fera de ouro”, lançado antes da Copa. 

Porém, a música que marcou aquela seleção, e que acabou sendo utilizada pelo governo da época foi “Pra frente Brasil”, de Miguel Gustavo. E se tornou o hino daquela seleção, daquela inesquecível conquista, o que é mais justo recordar.


A Arte da equipe que contava com o maior jogador de todos os tempos, Pelé, e muitos outros dos melhores da História do futebol, como o já citado Tostão, Carlos Alberto Torres, Gérson, Jairzinho, Rivellino, entre outros, foi reverenciada no mundo inteiro, incluindo o historiador anglo-egípcio Eric Hobsbawn, que em seu livro “A era dos extremos, o breve século XX” fez questão de dizer que aquela equipe elevou o futebol à condição de Arte. E foi da arte cinematográfica que veio outro apaixonado depoimento, justamente de um italiano, Pier Paolo Pasolini: “Se o drible e o gol são o momento individualista-poético do futebol, o futebol brasileiro é, portanto, um futebol de poesia. Sem fazer distinção de valor, mas em sentido puramente técnico, no México (em 1970) a prosa estetizante italiana foi batida pela poesia brasileira”.

Mas aqui a Arte em questão é a musical. E outros compositores importantíssimos se renderam à magia daquele futebol maravilhoso. Como por exemplo, os irmãos Marcos Valle e Paulo Sergio Valle, que criaram “Sou tricampeão”, gravada pelos Golden Boys, música que ficou um pouco esquecida, mas que merece ser lembrada.


Até a cidade onde os brasileiros ficaram concentrados e jogaram da estreia, contra a Tchecoslováquia (4 x 1), à semifinal, contra o Uruguai (3 x 1), foi lembrada. “Guadalajara”, de Murilo Caldas, foi gravada pelos Demônios da Garoa originalmente num compacto que tinha no Lado B outra música para a seleção, chamada “Brasil 70”, de Zuleika Amaral, mas infelizmente não consegui o áudio dela ainda (). Mas “Guadalajara” está abaixo. 


Para terminar, reproduzo aqui trechos do que João Saldanha, o homem que tirou a seleção brasileira do fundo do poço em que se encontrava após a péssima participação na Copa de 66, escreveu na coluna que assinava no jornal O Globo, sob o título “Vitória da Arte”. O texto foi publicado no dia seguinte ao tri, garantido com os 4 a 1 sobre a Itália, no dia 21 de junho de 1970, no Estádio Azteca, Cidade do México.

O comentarista que o Brasil consagrou abriu assim: “Antes de mais nada, quero dizer que a vitória extraordinária do Brasil, foi a do futebol. Do futebol que o Brasil joga, sem copiar ninguém, fazendo da arte de seus jogadores a sua força maior...” E terminou desta forma: “A nossa vibração e a minha, em particular, foi pela vitória da arte, que continua sendo, dentre as mais variadas concepções do futebol moderno, a verdadeira razão de encherem os estádios e a identificação mais sólida e decisiva do futebol do Brasil”.

Até julho. Cuide-se bem, de si e do próximo. 


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