Música

O centenário de Jackson do Pandeiro

quinta, 08 de agosto de 2019

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Jackson do Pandeiro nem sempre foi Jackson. Ele nasceu (no dia 31/08/1919, Alagoa Grande) como José Gomes Filho. Desde cedo interessado por música, o pequeno pediu aos pais que lhe dessem uma sanfona. Como não tinham dinheiro para comprar o instrumento, os pais lhe presentearam com outro, de preço mais em conta: um pandeiro, o qual ele continuou tocando pelo resto da vida, a tal ponto de se torar sua marca registrada. 

A paixão pelo instrumento era tanta que, ainda na infância, “pandeiro” passou a integrar seu nome, através de um apelido dado pelos amigos. Mas como naquela época já havia “muito Zé na Paraíba”, como o próprio viria a cantar anos depois em uma de suas músicas, deram-lhe o nome de “Jack”, por influência de Jack Perry, famoso ator de filmes norte-americanos de faroeste da época. Assim, unindo a vocação musical à paixão cinematográfica, se tornou “Jack do Pandeiro".    

Foi com esse nome artístico que ele formou, em 1939, uma dupla com José Lacerda, irmão de Genival Lacerda, chegando a fazer algum sucesso em Campina Grande (onde morava na época), com diversas apresentações pelas feiras e cabarés da cidade. Em 1948, depois de passar alguns anos trabalhado na Rádio Tabajara, de João Pessoa, mudou-se para o Recife, indo trabalhar na Rádio Nacional do Comércio. Foi lá que passou a adotar, definitivamente, o nome Jackson do Pandeiro, pois concluiu que soava melhor do que simplesmente “Jack”. 

No entanto, o sucesso radiofônico só veio mesmo no ano de 1953, quando Jackson do Pandeiro já estava com 35 anos. Trata-se da gravação do disco que continha, de um lado, Sebastiana (Rosil Cavalcanti) e Forró em Limoeiro (Edgar Ferreira), que logo se tornaram grandes sucessos, sobretudo Sebastiana, que explodiu nas rádios e virou um clássico da música popular brasileira: 

Convidei a comadre Sebastiana 
Pra dançar um xaxado na Paraíba
Ela veio com uma dança diferente
E pulava que só uma guariba...

Com o sucesso conquistado com essa música, Jackson finalmente ganhou projeção nacional. Mudou-se para o Rio de Janeiro, onde foi contratado pelas rádios de maior prestígio da época, como a Tupi, Mayrink Veiga e, claro, a Rádio Nacional

Ao longo da extensa carreira (que só se encerrou em 1981 com o disco Isso é que é forró!), Jackson do Pandeiro conquistou um importante espaço na cultura brasileira, reconhecido até hoje pela crítica como um dos maiores ritmistas da música nacional – por isso o apelido de “Rei do Ritmo”. Essa fama de Rei (que o acompanhava desde a década de 1950), surgiu por sua capacidade singular de dividir as frases musicais, quebrando a lógica das estrofes e reconstruindo-as sobre o compasso original. 

Além disso, num aspecto mais amplo de seu legado, pode-se afirmar sem qualquer indício de hesitação, que Jackson do Pandeiro foi, ao lado de Luiz Gonzaga, o grande divulgador da música nordestina a nível nacional. Criador de um estilo singular, unindo o som tradicional a uma estética pop, Jackson do Pandeiro influenciou um sem número de artistas que vieram depois dele, como Gilberto Gil (que regravou duas músicas suas no álbum Expresso 2222), Gal Costa (que regravou com sucesso o hit Sebastiana em seu primeiro álbum solo, em 1969), João Bosco, Alceu Valença e Chico Buarque, para citar apenas alguns. 

Com um repertório lúdico e bem-humorado, que ia do xaxado ao baião, do samba à marchinha, Jackson do Pandeiro representou – e continuará representando – a face de um Brasil que nos inspira orgulho: um Brasil puro, alegre, profundo, sem máscaras e cheio de idiossincrasias, mas no qual é possível acreditar. 

Se hoje esse Brasil já soa um pouco longínquo, com as músicas de Jackson do Pandeiro é possível resgatá-lo um pouco. E são tantas as grandes canções eternizadas por ele: O canto da ema, Chiclete com banana, Xote de Copacabana, 17 na corrente, Como tem Zé na Paraíba, Cantiga do sapo, A mulher do Aníbal, Forró em Caruaru, Vou ter um troço, e muitas, muitas outras, espalhadas pelas dezenas de discos que gravou. 

Em agosto de 2019, ele estaria completando 100 anos. Embora não seja preciso uma data específica para celebrar Jackson do Pandeiro, seu centenário é uma boa ocasião para lembrarmos de nunca esquecê-lo. 

Viva Jackson do Pandeiro



Texto por: Tito Guedes 

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