Colunista Convidado

Guilherme Lamounier "Vida e Obra"

por Alipio Argeu

sábado, 04 de fevereiro de 2023

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O carioca Guilherme Lamounier da Silva Carmo (1950-2018) foi cantor, compositor, ator, multi-instrumentista e um dos mais importantes nomes do rock brasileiro dos anos 70 e 80. Dentre suas músicas mais famosas destacam-se: “Enrosca”, “Seu Melhor Amigo”, “Vai Atrás Da Vida Que Ela Te Espera” e "Será Que Eu Pus Um Grilo Na Sua Cabeça?".

Guilherme gravou três álbuns, todos batizados com o seu próprio nome, além de vários compactos. Suas músicas também foram temas de várias novelas famosas da Rede Globo.

Dono de uma voz melodiosa e com drives blueseiros poderosos, Guilherme transitava entre várias vertentes musicais e foi constantemente regravado por artistas de sua época, tais como: Zizi Possi, Vanusa, O Peso, As Frenéticas, Jerry Adriani, Fábio Jr. e Marie Laforêt.

Guilherme vem de uma família cujo sobrenome respira musicalidade. Seu avô, o compositor Gastão Lamounier, era conhecido como o Rei da Valsa nos anos 30. E seu primeiro contato com a música vem desde o ventre de sua mãe, Sylvia Lamounier, que era cantora lírica, professora de canto e pianista clássica. Aos três anos de idade, Guilherme iniciou com aulas de piano e depois violão e canto até conseguir seu primeiro instrumento: um acordeon.

A música era uma coisa natural em sua vida, entranhada pelos quatro cantos da casa.

Na adolescência, reunia seu conjunto, Os Nômades: um grupo de garotos que se somaram influenciados pelo som dos Beatles. Foi quando o presidente do Clube Radar em Copacabana (RJ), onde Os Nômades já havia se apresentado várias vezes, resolveu contratá-los fixamente para animar as festas do clube. Formando então o ALL Stars, com Guilherme nos vocais, o repertório era basicamente formado por rock, ao estilo dos Beatles e Rolling Stones.

Até que Peter Thomas, dono de uma orquestra de baile profissional, ouve Guilherme cantando no Radar e o convida para ser crooner de seu conjunto de músicos. Tocando em bailes de formatura por todo o Brasil, o repertório de Guilherme passa a ser mais eclético, transitando pelo rock, bossa nova, bolero e samba. Basicamente, tudo que era sucesso nas rádios da época.

Participou da primeira adaptação para o cinema do livro "Capitães de Areia", de Jorge Amado, "The Sandpit Generals", dirigido pelo norte americano Hall Bartlett. A convite de Aloísio de Oliveira, interpretando o personagem Gato, Guilherme dividiu a trilha sonora com ninguém menos que Dorival Caymmi, compondo duas canções em inglês. O filme foi gravado em 1969, em Salvador (BA), e lançado em 1971. Foi censurado no Brasil pelo Regime Militar, mas, na Rússia, teve grande impacto e se tornou um sucesso na época, sendo visto por 43 milhões de russos em meados dos anos 70.

Carlos Imperial e Guilherme Lamounier. Foto: Reprodução

Em 1970, Carlos Imperial produziu o primeiro disco de Guilherme - com arranjos de Dom Salvador, Leonardo Bruno e Maestro Cipó -, lançado pela Odeon (EMI). No mesmo ano, participou do Festival Internacional da Canção, defendendo a música "Conquistando e Conquistado", de Imperial e Ibrahim Sued. Em 1971, participou novamente do Festival, mas desta vez com destaque ao acompanhar no piano e fazendo a segunda voz para o artista paquistanês radicado em Londres Rocky Shahan. Na ocasião, a dupla se deu bem na fase Internacional com a canção "Love Is On My Mind", conquistando o segundo lugar e grande repercussão nos jornais da época.

Considerado uma das obras primas do rock psicodélico setentista, o segundo disco de Guilherme Lamounier foi lançado em 1973. O trabalho é fruto de uma parceria com Tibério Gaspar, autor de sucessos musicais como "Sá Marina", "BR-3" e "Teletema". Tibério conta que as canções foram compostas no final de 1971, mas Guilherme só as gravou em 72. E diz: “Acredito que elas tocam as pessoas porque foram feitas com amor e extraídas da própria vida”.

Tibério também acrescenta que: “Se tivesse sido gravada logo que compomos, com certeza o impacto seria maior. Digo isso porque a sonoridade que bolamos na época, com bateria, baixo e violões com corda de aço, ainda não havia sido usada. Já em 72 apareceram James Taylor, Simon & Garfunkel, Carol King e Cat Stevens e ‘vazaram’ de certo modo o ineditismo da nossa sonoridade".

Em entrevista para Bill Falcão no final de 73 pela Editora Vecchi, o Guilherme contou um pouco sobre o disco: "Há um tempo atrás, gravei meu primeiro LP, de um modo menos elaborado, para satisfazer as exigências da 'máquina' e acabei notando, que aquele não seria um bom caminho a seguir.

Passei muito tempo experimentando novas formas de criações e esse meu último disco que saiu é um resultado disso, que me agradou mais, pois nele me preocupei com o sucesso que poderia ter, com a vaidade ter alcançado as paradas, mas apenas quis fazer um trabalho que me pareceu verdadeiro".

O disco foi gravado nos estúdios da Rádio Gazeta em São Paulo e teve a participação de músicos já conhecidos como: Wagner Tiso no sintetizador, Luiz Claudio Ramos nos arranjos e regência, Lanny Gordin na guitarra, Oberdan Magalhães na flauta e o próprio Guilherme tocando violão, piano e gaita. A direção de produção foi de Fernando Falcon e o técnico de som, Milton Rodrigues.

Ficaram de fora do disco três canções inéditas: "The Gates To The Paradise", "Ano 2000 e Meio" e uma versão em inglês de "Mini Neila". A arte da capa foi feita pelo artista baiano Adelson Filadelfo do Prado, enquanto o ensaio de fotos foi feito pelo fotógrafo François Cordineu. A arte final ficou por conta de Oscar Paolillo.

Guilherme lançou dois compactos pela Continental, entre 74 e 75, com apoio e produção de Erasmo Carlos. Nessa mesma época o Guilherme dava aulas de violão pra Narinha esposa do Erasmo na época.

Em 1976 concedeu uma entrevista pra Revista Amiga, onde contou da felicidade de ter seu trabalho produzido pelo o Tremendão.

"Erasmo tem muita experiência de estúdio, graças a ele pude tirar o som que queria".
Guilherme, 1976.

Depois, em 1976, assinou contrato com a Philips lançando um compacto duplo. Um ano depois, Guilherme lançaria o hit “Enrosca”, que se tornou sucesso nacional e foi tema da novela “Locomotivas”, da Rede Globo. A canção rendeu a ele um contrato com a Som Livre. Até que, em 1978, Guilherme lança seu terceiro disco.

Segundo o próprio Lamounier, em declaração ao jornal A Tribuna, em 1979, “foi todo um lance de equipe, assim como uma família, um dando força pro outro. O disco deve passar esse clima de companheirismo entre os técnicos de estúdio, produtor e músicos. Foi um disco demorado (8 meses de gravação), pensado e repensado nos últimos detalhes, tecnicamente perfeito. É um trabalho preocupado em dizer coisas bonitas, de amor".

Guilherme deu um tempo de quatro anos na carreira, mas foi figura presente em vários discos de outros artistas, que gravaram suas canções constantemente. Voltou em 82 ao lançar pela EMI um compacto simples tendo destaque pra canção "Orquestra Divina" tema da novela Paraíso, compôs também canções com Carlos Colla, Eládio Sandoval e Sandra Pêra. Em 84 pela Philips lança outro compacto com participação de Tim Maia tocando bateria, e também duas canções lançadas posteriormente: em 1985, “Luz de Mim” de Daltony Nóbrega, para o especial infantil “Era dos Halley” (fazendo dueto com a cantora Rosana), e, em 1986, a música de abertura da novela “Tudo Ou Nada”, sendo este seu último registro em estúdio.

No final de 1986, depois de participar do Festival de Primavera de Nova Iguaçu (RJ), Guilherme afasta-se completamente da vida nos palcos. Ainda assim, continuou compondo canções belíssimas, que foram gravadas por grandes artistas da nossa MPB: Rádio Táxi, Jerry Adriani, Roupa Nova, Sandy & Junior, Paulinho Moska, Zé Ibarra, Kid Abelha, entre outros.

Guilherme faleceu no dia 07 de agosto de 2018, aos 67 anos, devido a complicações de saúde.


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