Entrevista

Entrevista Exclusiva: 80 anos de Marcos Valle

Por Caio Andrade e Cecília Innecco

quarta, 06 de setembro de 2023

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Vamos viajar pelas memórias do nosso 80tão Simpático?

Marcos Valle, o nosso grande homenageado desse mês de setembro, em que compelta 80 anos, nos concedeu uma entrevista exclusiva relembrando suas memórias musicais, falando sobre suas referências, e a expectativa para  o aniversário no próximo dia 14, a ser comemorado no Circo Voador.

Marcos Valle. Foto: Ana Branco.

O cantor, compositor, instrumentista e arranjador foi um dos representantes da segunda (ou terceira) geração da bossa nova, mas mergulhou por diversos estilos e referências com o passar dos anos. Só com o irmão, Paulo Sérgio Valle, já compôs dezenas de músicas, dentre as quais: "Samba de Verão", "Viola Enluarada", "Estrelar", "Com Mais de 30", "Preciso Aprender a Ser Só"e etc. São incontáveis sucessos desde os anos 1960.

Vem com a gente conhecer um pouquinho mais desse artista tão marcante na memória musical brasileira! Confira:

IMMuB: Lembrando da sua infância, qual foi a primeira música brasileira que você se recorda de ouvir e como essa experiência afetou você?

Marcos Valle: A primeira música que eu me recordo de ter ouvido, assim, com atenção, então essa que está na minha memória, foi o “Xote das Meninas” de Luiz Gonzaga, aquela que fala, “ela só quer, só pensa em namorar”, que é um xote, né? E como talvez por eu já ter na minha família uma parte que vem do Norte, do Nordeste, vem do Pará, vem do Ceará, eu provavelmente já tinha uma atração por isso, eu tinha uma tendência a gostar. E gostei muito daquele balanço do acordeon do Luiz Gonzaga, tanto assim que mais tarde eu vim aprender a tocar esse acordeon muito por lembrança dele. E depois disso, entre várias outras músicas que eu ouvi, eu ouvi muito baião também. Forró. Isso realmente marcou a minha música, acho que ela acabou fazendo parte do estilo dela no futuro, quando eu passei a fazer profissionalmente.

IMMuB: Nesses 80 anos, você deve ter ouvido muitos discos. Conta pra gente um álbum que marcou a sua vida e todos deveriam conhecer?

Marcos Valle: Eu ouvi muitos discos que realmente marcaram, influenciaram muito no meu estilo também, mas mais uma vez eu vou lá para trás porque eu acho que é ali que forma a base da minha musicalidade, das minhas influências. E aí, eu vou para Dorival Caymmi. Eram dois discos: tem o “Canções Praieiras”, que é de 1954, e “Eu Vou pra Maracangalha”, de 1957, que aí já traz os sambas. São duas vertentes do Dorival Caymmi e as duas eram fantásticas. Então, eu diria que são esses discos que eu me lembro de ter ouvido inteiro com mais atenção.

Capas de "Canções Praieiras" e "Eu Vou pra Maracangalha", de Dorival Caymmi.

IMMuB: Você transitou por muitos estilos na sua música, criando uma identidade única. Então, diz pra gente uma referência musical que ninguém imagina que tenha influenciado a sua carreira?

Marcos Valle: Olha, talvez as pessoas não saibam que o Little Richard, roqueiro, tenha me influenciado muito com aquele rock preto, né? Rock negro, black rock, né? Aquilo que eu curtia, aquela maneira dele tocar, aquela percussiva ali no piano. Acho que me influenciou muito também na minha maneira de olhar o piano, como usar o piano percussivamente e tal. E talvez as pessoas não saibam disso.

IMMuB: Depois de todos esses anos, existe alguma canção brasileira que o transporte imediatamente para um momento específico e marcante de sua vida?

Marcos Valle: Me lembro uma música, a voz e a gravação que me levam exatamente para um lugar, lembro onde eu estava perfeitamente. Foi no disco do João Gilberto, “Chega de Saudade”, quando ele canta a música “Coisa Mais Linda" do Carlos Lyra, é lindíssima. E aquilo foi a primeira vez que eu vi, aquela interpretação, aquela melodia, letra e o arranjo do João Gilberto cantando com aquele violão, aquilo foi uma coisa marcante para mim. Eu me lembro exatamente onde eu estava, eu estava numa festa ali no Leblon. Me lembro até da namorada que eu estava naquela época [risos]. Foi assim, uma coisa perfeita. Eu ouço essa gravação e me carrega exatamente para aquele momento.

IMMuB: Você fez muitas parcerias ao longo da sua história. Existe algum artista que você gostaria de ter trabalhado e o tempo não permitiu?

Marcos Valle: Lá em 1988, mais ou menos, havia uma ideia de fazer um disco com parceiros. Quer dizer, com parceiros musicais, não necessariamente parceiros de composição, mas com pessoas, artistas que eu admirasse e que participariam das músicas comigo, músicas minhas. Embora eu não tivesse curtido muito a ideia, eu pensei imediatamente no Tom Jobim. Foi em primeiro lugar a pessoa que eu pensei, porque o Tom, além de toda a admiração musical que eu tenho por ele, a influência, foi uma pessoa realmente sempre muito carinhosa comigo, todas as vezes, desde o início, elogiando muito minhas músicas. Depois [estivemos juntos] nos Estados Unidos, quando ele estava lá para gravar com o Sinatra, e eu, porque o “Samba de Verão” tinha estourado, [lá fora] e no Brasil também. Em vários momentos, sempre que nos encontrávamos era sempre absolutamente agradável, sabe? Muito bom. E aí, quando houve essa ideia desse disco, eu pensei em fazer o “Samba de Verão" com ele. E nós chegamos a ensaiar na casa dele. Fomos lá, eu estava no violão, ele no piano, nós dois cantando, e a ideia era exatamente a gente gravar juntos. Teria sido uma coisa fascinante, maravilhosa e tal, mas acabou não dando tempo por vários motivos. E esse disco eu nunca fiz, mas ficou a lembrança e até lamento não ter sido gravado aquele ensaio.

Tom Jobim, Sylvia Telles e Marcos Valle nos estúdios da RCA Victor nos anos 1960 para a gravadora Elenco. Foto: Luiz Conceição. Fonte: Instituto Antônio Carlos Jobim.

IMMuB: Dia 14 de setembro é dia de festa, que música você escolheria para celebrar esses 80 anos?

Marcos Valle: É difícil essa resposta, porque 60 anos de carreira com tantas músicas que eu fiz…mas, para pensar uma coisa mais atual, mais recente, eu acho que uma música nesse momento, dia de festa, seria o “Vida”, que eu fiz com a Liniker, porque é exatamente uma música muito para fora, alegre, falando do amor, todo mundo junto outra vez, todo mundo curtindo, as esperanças voltando, e é assim que eu vejo a vida. Não só para mim, como para todo mundo. Então, eu escolheria o “Vida” para ser a música tema desses 80 anos.

Nós desejamos também muita vida a esse artista plural, adorado por tanta gente e com uma obra vasta e maravilhosa. Parabéns, Marcos Valle!

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