Supersônicas

Almério quebra tudo em “Desempena”

por Tárik de Souza

quarta, 14 de fevereiro de 2018

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Nascido em Altinho, há 36 anos, mas projetado como ator e cantor em Caruaru, ambas cidades pernambucanas, Almério Rodrigo Menezes Feitosa, ou apenas Almério, consolida sua pegada estética no segundo título, Desempena (Natura Musical). A voz de registro agudo, mais cortante que delicada, singra imagens fortes a partir da faixa título, de melodia concêntrica, de sua autoria: “seguiu vontades opostas/ uma aposta furada, uma voz empostada/ um amor impostor/ veneno curador”. Em parceria com Waldir Santos, “Chamado”, também em rodamoinhos sonoros, não alivia a pressão: “o mundo muda a cada volta/ e nada volta a ser igual/ a boca, o riso, a barca, a rota/ a madrugada, o madrigal”. Mais próxima do pop rock, “Tatoo de melancia” escancara mais: “pouso de artista/ viro budista/ eu tô falando sozinho/ divido ainda/ um abraço, um prato de cocaína/ eu tô pedindo socorro”.


Almério abre espaço também a outros compositores locais, como Martins (“Queria ter pra te dar”), Isabela Moraes (“Segredo”) e o essencial violonista, baixista e produtor do disco, Juliano Holanda, de “Trêmula carne”, “Do avesso” (“nesses dias em que é necessário/ colocar toda a mobília da casa pra fora/ pra fazer a faxina detalhada/ e limpar bem os quatro quartos da alma/ e mandar toda má energia embora”), com participação de Elba Ramalho, e o épico “Porque você”, em nada menos de três atos. Letras passionais, com sentido de urgência e cobrança de posturas, que se afirmam também no acompanhamento enxuto. Além de Juliano, ressoam os teclados de Piero Biachi, percussão intensa e criativa de Marconiel Rocha (alfaia, zabumba, pandeirão, caixa, caxixi, reco-reco de mola, balde de gelo, sementes, surdo, chimbal, cayamb), sobrevoada pelas flautas de Philipe Moreira Salles, cujos timbres oscilam entre pífanos rascantes e melífluas quenas andinas.


Fonte da Imagem: Facebook | Arte/designer : Thiago Liberdade

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