As Canções que Você Fez pra Mim

A Morte e a Morte do Cabo Laurindo

sexta, 05 de abril de 2024

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Em 1943, no contexto da Segunda Guerra, surgiu um personagem inusitado na música brasileira. Eis o nome do personagem: Laurindo. Figura dramática do samba homônimo de Herivelto Martins composto para o carnaval daquele ano. O samba era, a rigor, uma sequência de “Praça Onze”, na qual Herivelto Martins e Grande Otelo retratam em versos o fim dos desfiles das escolas de samba na Praça Onze. Na novíssima canção, Laurindo sobe o morro gritando: "Não acabou, a Praça Onze não acabou / Vamos esquentar nossos tamborins / Procure a porta-bandeira / E põe a turma em fileira / E marca ensaio pra quarta-feira (...) Laurindo pega o apito, apita “evolução”

Pensa que acabou? É claro que não.

Note-se que o continuador da saga de Laurindo foi o sambista Wilson Batista. Com um agravante: o compositor transformou-o num diretor de bateria da verde e rosa da Mangueira, mas que parou as atividades carnavalescas para lutar na Segunda Guerra Mundial. Cante comigo em “Lá Vem Mangueira”: "Lá vem Mangueira / Sem Laurindo na frente da bateria/ Perguntei: Conceição, o que aconteceu? / Laurindo foi pro front, este ano não desceu".

Wilson Batista, porém, estava longe de terminar a temporada de Laurindo. Ele tratou de dar uma patente e um final feliz para o militar. Em “Cabo Laurindo”, (com Haroldo Lobo), o cabo retorna, “coberto de glória, trazendo garboso no peito a cruz da vitória”.

A história acrescenta o desenlace numa quarta canção, intitulada “Comício em Mangueira” (Wilson Batista e Germano Caetano). A letra é um troço emocionante pra dedéu. O samba remonta o discurso do militar logo após voltar do campo de batalha. Cante comigo: "Houve um comício em Mangueira / O cabo Laurindo falou / Toda escola de samba aplaudiu / Toda escola de samba chorou/ “Eu não sou herói” / Era comovente a sua voz / “Heróis são aqueles que tombaram por nós”.

Mas quem foi, afinal, o Cabo Laurindo? Hoje, nós sabemos o seguinte: ele nunca existiu. Eu disse “nunca existiu” e já ratifico a passagem infiel: ele existiu para Wilson Batista e Herivelto Martins e caiu nas graças dos sambistas dos anos 1940. Reza a lenda e a história que Wilson Batista, perdendo a paciência em ouvir histórias sobre o seu super-herói fictício, chegou a desenhar o assassinato do Cabo Laurindo em um crime passional. O militar seria encontrado mortinho da Silva numa viela do morro da Mangueira. 


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