Prosa & Samba

A arte e a genialidade de Octavio da Silva - o Talismã parte 2

segunda, 25 de setembro de 2023

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A noite vem chegando
Com ela meu sofrimento…

(Meu Sexto Sentido - Talismã)

Um samba que se tornou eterno na voz de Beth Carvalho, mas afinal quem compôs? Dizem por aí que o nome dele é Talismã! Talismã é um nome? Não, seu nome é Octávio da Silva! Um nome simples e que passa despercebido para muitos, mas para quem apreciou e bebericou de sua inesgotável fonte de boa música, logo detecta que não se trata de um simples letrista e sim um dos mais talentosos que passaram por esta terra.

Talismã e Beth Carvalho

Você, caro leitor, vai pensar que este reles rabiscador de palavras está exagerando! E eu não estou aqui para lhe dizer o contrário! A simplicidade despejada nas letras e composições de Octávio da Silva, demonstram o tamanho de sua nobreza. 

Ele não se limitou apenas às composições, foi ator ao lado de Marco Aurélio Jangada e companhia nas peças de Plínio Marcos, fez também composições para as peças. Uma das grandes obras de Plínio Marcos, a peça: “Balbina de Iansã” tem a participação do nobre artista.

No campo das artes, ele também foi referenciado pelo seu talento. Sendo ele um exímio artista plástico, fez diversas peças e nesta longa estrada colecionou amigos. Nas palavras do amigo Designer, Compositor e Publicitário Zé Nivio Gaspar fica registrado alguns traços deste nobre: "O 'Mumu' como assim ele chamava  a todos, foi um ser humano fantástico, amigo, companheiro e um dos grandes talentos da nossa cultura. Talentoso, mantinha um ateliê no centro, onde presenteava os amigos com suas belas esculturas. Olha, a vida e a noite foram sua inspiração! Tivemos encontros em minha residência sensacionais e que renderam belos sambas enredos e diversos sambas. O samba ganhou um gênio e eu ganhei um irmão".

Foto: Ze nivio Gaspar

Apesar desta genialidade expressa o nosso "Mumu" tinha como característica o seu jeito pacato e a sua timidez. Nas palavras dos Embaixadores do Samba de São Paulo, Maria Helena e Waldir Dicá, Talismã era uma “Estrela”: “Convivemos pouco com Talismã, ele para nós era um artista de renome e destaque, literalmente uma estrela. Todos conheciam seu trabalho, tanto na música como nas artes, tivemos o prazer de vê-lo atuar no Barracão dos Rosas de Ouro nos anos 80. Ele era desconfiado e pouco conversava, ele deixava seu talento falar por si. E quando pedíamos uma música ele de pronto respondia: 'Se quer ouvir meus sambas tem que me visitar no Camisa Verde e Branco'”.

Para o compositor Silvio Modesto, o amigo e parceiro de vida era considerado um “Professor”, sua genialidade era inexplicável. Sem jamais perder a sua simplicidade e humildade, ele compartilhou com o mundo sua sabedoria. 

Talismã com Silvio Modesto

Morador da Rua Albuquerque Lins, no Bairro do Campos Elísios, para sobreviver, ele foi funcionário da extinta CMTC (Companhia Municipal de Transportes Coletivos), nos braços da sua apaixonante Barra Funda, perto do seu querido São Paulo Chic e de seu amor maior, o Camisa Verde e Branco.

Documento de Talismã

Mesmo com esta paixão, ele contribuiu em diversas outras escolas de Samba. Deixando fragmentos de sua arte.


Mesmo com toda esta história rica e este olhar único, ele teve seu destino desenhado como a letra do samba de seu amigo Geraldo Filme em “Silêncio no Bixiga”. Geraldo já dizia: “Partiu não tem placa de bronze, não fica na história, sambista de rua morre sem glória, depois de tanta alegria que ele nos deu”,  em 24 de Abril de 1990 não teve manchete em jornais que tanto falavam seu nome nos períodos do tríduo de momo, nem anuncio na tv. Apenas o silêncio de um surdo de marcação, a presença da família, dos amigos de estrada e vida.

Apesar de compartilhar todo seu talento em prol da cultura e das artes, Octavio da Silva tem apenas uma homenagem no Centro de Exposições do Anhembi nomeando uma sala. Seus registros estão espalhados por aí, são poucas as composições do mestre que foram registradas, um pecado pra nós!

Em um cenário onde a força do negro é sempre ressaltada, Talismã deixa o recado e assim eu digo obrigado ao Professor e a todos os amigos que me dão força para continuar a escrever sobre estes que o tempo teima em querer apagar. 

O samba vive!


Este material é dedicado a Família de Talismã, ao Seu Filho Octávio, ao Parceiro Piqueiras por auxiliar na pesquisa de material sobre Benedicto lobo, ao Ideval Anselmo, Ze nivio, Zé Maria, Marco Antônio da Nenê, a Barbara e a Regina, filhas de Marco Aurélio Jangada, ao Thiago Praxedes, ao Zulu Pereira, ao legado de Plínio Marcos, a minha família, esposa (Pamella) e as filhas (Julia e Olivia) e a vocês que leem e compartilham, vocês são meu Sexto Sentido. 


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