As Canções que Você Fez pra Mim

Zé da Velha ou a Velha do Zé

terça, 19 de março de 2024

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O baile começou às três da tarde, e o novato chegou quase às quatro. Ao entrar no salão, José procurou o músico Bide da Flauta, que respondeu mais ou menos assim ao calouro:

- É você que vem fazer no lugar do Vittor? Mas ele não disse que o baile começava às 15 horas, menino, e você só chega agora?

improvisou um discurso:

– Desculpe, Seu Bide, tive um problema no lotação.

Aroldo, que tocava surdo no grupo, mandou lá da cozinha:

– Será que esse menino toca mesmo? O Vittor não vem e ainda por cima manda um “atrasildo”!

tirou o trombone do saco e executou o choro “Espinha de Bacalhau”, do maestro Severino Araújo. Quando terminou a primeira parte, Aroldo comentou a queima-roupa:

– Não é que esse menino toca?!

Botando a boca no trombone, estreou com o pé direito com o Grupo da Velha Guarda, outrora denominado Guarda Velha. O Guarda Velha era uma nova versão de Os Batutas (lendário conjunto formado em 1919 por Donga, Pixinguinha, João da Baiana e companhia). Foi com o Guarda Velha que Pixinguinha (sax e flauta), Plinio de Abreu (flauta), Francisco Sena (vocal), Donga (cavaquinho e banjo), João da Baiana (prato), Tio Faustino (ome#lê), Augusto Soares (ganzá), Cicero Diaz (agogô), Adolfo (cabaça), Francelino (pandeiro) e Bide (cuíca) tocaram no carnaval de 1932, iniciando uma trajetória exitosa na música popular.

A estreia rendeu frutos, e passou a tocar com o Grupo da Velha Guarda todos os domingos na matinê do Bola Preta e, à noite, no Clube dos Democráticos, na Lapa. A temporada começava no dia 15 de novembro e ia até um domingo antes do carnaval. No Cordão da Bola Preta, o carnaval era saudado com espocar de foguetes após a chegada da Rainha Moma, S. M. Frederica Augusta, a “Coração de Leoa”. E não era só a rainha que vinha “pro Bola com alegria infernal”. Com pouco tempo de casa, o jovem virou Zé da Velha Guarda. É o próprio músico que revela outra origem do apelido: “Quando eu parava de tocar, uma senhora sentada na mesa em frente ao palco do Bola Preta pegava o copo de cerveja e oferecia um brinde. O João da Baiana observou o fato e comentou: ‘Sei não, meu sobrinho, mas essa velha está querendo alguma coisa com você’. Quando a velha não ia, o povo do Velha Guarda dizia: ‘A velha do não veio hoje’.”

A partir daí, com 18 anos, Zé da Velha Guarda perdeu a Guarda e ganhou, definitivamente, a alcunha de Zé da Velha


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