O néo caipira de Renato Teixeira em tratamento sinfônico

Com a genial “Disparada”, um carioca, Theo de Barros, e um paraibano, Geraldo Vandré, ambos radicados em São Paulo, mostraram que a moda de viola caipira, da região sudeste/ centro oeste, poderia ser reformulada a partir dos parâmetros da bossa nova. Santista, criado em Taubaté, Renato Teixeira levou adiante o projeto, a partir de sua obra prima “Romaria” com tinturas poéticas concretistas (“sou caipira/ Pira-pora/ Nossa Senhora de Aparecida/ ilumina a mina escura e funda/ o trem da minha vida”), sucesso estrondoso de Elis Regina.

Aos 72 anos, no refinado encontro com a Orquestra do Estado de Mato Grosso, sob regência de Leandro Carvalho, “Terra de sonhos” (Kuarup), ele lapida este estilo neo caipira, que revelou outros ases como o matogrossense de Campo Grande, Almir Sater, parceiro de Renato em clássicos subseqüentes do ramo como “Tocando em frente” e “Um violeiro toca”. E ainda, o parceiro dele em “Sonhos guaranis”, o carioca criado na mesma Campo Grande, Paulo Simões, que divide com Geraldo Roca outra pérola, “Trem do Pantanal”. O roteiro rebusca velhos mestres como o ítalo paulista Mario Zan (“Chalana”, com Arlindo Pinto, “Ciriema”, com Nhô Pai), Elpídio dos Santos, de São Luiz do Paraitinga (“Depois do chimarrão”, com Nininho), Anacleto Rosas Jr, de Mogi das Cruzes (“Flor matogrossense”) e o paulista de Pratânia, Tinoco, da dupla com o mano Tonico (“Mato Grosso rico”, com Paraíso).

 Foto de capa do álbum "Terra de Sonhos"

Essa teia de influencias e latitudes da música interiorana cabocla enriquece o álbum, conduzido pelo vocal confidente de Renato Teixeira enevoado por cordas, a bordo de suntuosos arranjos de André Mehmari, Vittor Santos, Ruriá Duprat, Paulo Aragão, Ítalo Perón e Tiago Costa. Há ainda outras composições consagradas do solista como “Amora”, “Meu veneno”, “Raízes”, a inédita “Passatempo” e a faixa título, mais uma parceria com Almir Sater.