Garotas Suecas na contramão em “Futuro do Pretérito”
por Tárik de Souza
“Se você é homem heterossexual/ que acha que de longe ou perto só você é normal/ se não consegue enxergar seus privilégios/ mesmo tendo freqüentado os melhores colégios/ arrota meritocracia sobre o seu tapete persa/ Não tem conversa! Não tem conversa!” decreta uma das faixas mais agudas do terceiro disco do grupo paulista Garotas Suecas, “Futuro do pretérito” (Freak).
“Todos policiais” também cutuca a ferida: “Olho ao meu redor/ as pessoas sentadas no restaurante/ todas policiais/ eu não fiz nada demais/ nem precisa ter feito/ qualquer deslize é um defeito”. Agora um quarteto, onde todos cantam, tocam e compõe, Fernando Perdido (baixo), Irina Bertolucci (teclados), Nico Paolielo (bateria) e Tomaz Paolielo (guitarra) também circulam por outros assuntos, além da claustrofobia social exacerbada na folk/bluesy “Angola Luisiana” (“das margens do Tietê ou do Mississipi/ as águas correm ao oceano/ as almas são mortas na gaiola/ dia a dia, mês a mês, ano a ano”). A caribenha “Ananás”, exalta a fruta tropical, pontuada pelas descaídas de slide guitar, enquanto “Objeto opaco” descreve alguém refratário à empatia: “um sorriso em sua direção/ sofre imensa força de repulsão”.
Repleto de convidados da cena indie, como o percussionista Matheus Prado (Projeto Coisa Fina), o saxofonista Filipe Nader (Trupe Chá de Boldo, Música de Selvagem), os guitarristas Marcelo Vogelear (Holger) e Marcelo Lemos (Vruumm, Projeto Coisa Fina) e o tecladista Andre Bruni (Mel azul, Cupin), o álbum “Futuro do pretérito” destila coesão instrumental e precisão poética. Do rock balada súplice “O quarto” ao furacão de guitarras “Fera”, e o epitáfio em escalas, “Morrer azul”, o Garotas Suecas investe na estranheza, em sincronia com o nome do grupo, escolado no arrepio da contramão.
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