MPB de A a Z

A voz do samba

segunda, 17 de agosto de 2020

Compartilhar:

Dezessete de agosto é uma data importante no calendário da música brasileira. Neste dia, em 1933, nasceu no Rio de janeiro Hildemar Diniz, menino do subúrbio, de família humilde, que aos 11 anos de idade começou a compor e hoje assina, orgulhosamente, Monarco.

Simplesmente Monarco.

Até começar a fazer sucesso nos terreiros, nas rodas, nas rádios e no Carnaval, Seu Hildemar teve inúmeras profissões. De feirante a contínuo no prédio da Associação Brasileira de Imprensa, ou cuidando de carros alheios no estacionamento do Jornal do Brasil, fez de tudo para garantir o pão enquanto o circo não o descobria. Enquanto não se revelava como compositor talentoso e cantor de voz embocadura personalíssima.

Que voz bonita que tem o Monarco!

O grande artista, baluarte da Portela e timoneiro da Velha Guarda da escola, tem aparência nobre (coisas de monarquia?) e seríssima; mas, embora não pareça, é um grande contador de causos, como este: diz que numa das reuniões históricas entre compositores com os antigos companheiros da Velha Guarda, a mulher de um deles (Chico Santana), reclamava do machismo no repertório:

– Nas músicas de vocês a mulher é sempre a ingrata, a traidora, a leviana...

Dia seguinte o parceiro se encheu de brios e romantismo, mostrando um samba vaselina, carregado de meu amor, minha flor, minha paixão, sem você não vivo, etc. Quando acabou de cantar, a patroa, que ouvia atentamente, perguntou:

– E quem é essa puta, Chico?!

Melhor que o causo só a gargalhada de Monarco, ao acabar de contá-lo.

Sou fã desse sujeito admirável e compositor genial, que começou a carreira ainda menino e até hoje exerce o seu ofício, e bem. Até hoje canta, cada vez melhor. Sozinho ou ao lado da família de músicos que a vida lhe deu (filhos e netos), o nosso Monarco não para de trabalhar.

É criador de encher os olhos, autor de sambas que estão entre os mais deliciosos da MPB e do repertório de excelências como Zeca Pagodinho, Paulinho da Viola, Clara Nunes, Martinho da Vila e Beth Carvalho. Tem alguns discos gravados (com certeza, bem menos do que merece), inclusive no Japão. Ainda corre para cima e para baixo (quando faz bom tempo, viaja até o estrangeiro), em busca de shows que garantam o sustento e a dignidade. Mas sem perder a elegância e o bom humor.

Voz do samba, dos sambistas e de sua Portela do coração, Monarco é uma das joias mais raras da nossa música e do Carnaval brasileiro.

Comentários

Divulgue seu lançamento