Supersônicas

A bossa renovada de Zanna decola pujante

por Tárik de Souza

quinta, 11 de janeiro de 2018

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“Eu não sou de Ipanema/ mas tenho meu sistema solar”. São versos só ouvidos em “Babe”, após três minutos de silêncio da última faixa oficial do álbum que leva o nome da cantora, violonista, arranjadora e compositora carioca Zanna.

Criada na Zona Oeste, em Jacarepaguá, a léguas do bairro da “Garota” de Tom Jobim e Vinicius de Moraes, Rozana Bruno palmilhou longa órbita própria até desaguar neste que considera seu primeiro disco. Típico fruto de uma MPB banida da mídia comerciante, ele desembarca repleto de bossas novas (“Esquecida”, leia o título, é uma delas), além de samba (“Bonecos reis”, parceria com Renato Grecco), bolero pop (“Quintal”), toada (“Menina de vento”, com viola 12 cordas de Jaime Alem e acordeon de Bebê Kramer) e até um sopro mariachi (“Eu”, trompete de Ramon Flores).

A exemplo de João Gilberto, seu norte vocal minimalista em “Estate”, ela gravou “L’amore”, só que autoral, respaldada pelo tempo em que viveu na Itália, e atuou num grupo chamado Bossa Nostra, onde era conhecida como Bruna Loppez. Com o grupo, gravou no disco “Kharmalion”, de 1999, outra bossa, “Inverno”, agora reciclada na nova fase da artista. Ela estudou flauta aos 7 anos, violão aos 11, canto aos 14, e já dividiu o palco, ao lado do Bossa Nostra, com o pianista americano Herbie Hancock, numa edição do Festival de Montreux, Suíça. Em 2003, tentou decolar sob outra identidade com uma banda fictícia Os Elétrons, articulada pelo múltiplo instrumentista Carlos Trilha, e depois embarcou no mercado de branding, criação de trilha sonoras para ambientes.

Sua voz está nos trens do metrô carioca, como informa Antonio Carlos Miguel no bem documentado texto de apresentação. No novo – e ao que parece, definitivo – desembarque estético, Zanna esbanja domínio pleno das linguagens da MPB pós bossa, desde o matador abre alas, “Vento de Praia Nordeste”, de ritmo quebrado, um “Samba de verão” pincelado pela gaita de Milton Guedes, à canção caudalosa “Se”, com participação vocal de Claudio Nucci. Não faltam estrelas no recheio instrumental (Jorge Helder, Marcelo Costa, Guto Wirtti, Rodrigo Sha, Rildo Hora, Eduardo Souto Neto, Marlon Sette, Jorjão Barreto) do disco produzido pelo medalhão americano Moogie Canazio, entre estúdios do Rio (Visom Digital) e Los Angeles (Capitol e East West), merecidamente indicado em três categorias do Grammy Latino no ano passado. 

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