Música

Vanusa em 4 regravações

por Caio Andrade

quinta, 22 de setembro de 2022

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Em São Paulo, no dia 22 de setembro de 1947, nascia Vanusa Santos Flores, uma daquelas grandes vozes da música brasileira que não foram devidamente valorizadas e exploradas, sobretudo por um público mais recente. Uma carreira de sucessos desde os anos 1960, com milhões de cópias vendidas, mas que ficou injustamente resumida pelo fatídico episódio com o Hino Nacional em 2009.

No início da carreira, mesmo antes do sucesso “Manhãs de Setembro” (1973), Vanusa já vinha regravando clássicos da MPB agora em uma pegada meio rockeira, meio psicodélica. Particularmente, acho admirável artistas que não tinham medo de lançar músicas autorais no início de suas carreiras assim como artistas que davam nova roupagem a músicas já conhecidas anos antes por outras vozes. Felizmente, Vanusa foi ambos.

Muitos dizem que “música boa não tem época”, e é muito interessante ver releituras completamente diferentes das versões originais. Quando isso é feito, parece ao mesmo tempo mostrar a valorização desses artistas com seus anteriores e toda originalidade deles para apresentar essas canções para o seu tempo.

Por isso, nos 75 anos de Vanusa, vamos fugir um pouco do óbvio e relembrar algumas dessas regravações:

Mensagem, de Cícero Nunes e Aldo Cabral (1946/1968)
Principal sucesso da carreira de Isaurinha Garcia, o samba-canção (ou samba mesmo, na versão original) foi relançado por Vanusa mais de duas décadas depois em seu primeiro disco, "Vanusa" (1968). Integrante de uma Jovem Guarda tardia, o álbum trouxe uma nova versão, mais dinâmica, da canção na qual a própria Isaura regravaria outras vezes em andamentos mais lentos e românticos.



Caminhemos, de Herivelto Martins (1947/1969)
Mantendo uma certa influência ainda de Jovem Guarda, mas de maneira mais madura e psicodélica, o sucesso de Herivelto Martins foi relançado pela cantora em seu segundo álbum, também “Vanusa” (1969), estreitando os laços rockeiros dela no início da carreira. Destaque para o acompanhamento da banda Os Brasas. A canção já havia sido regravada por diversos outros artistas, como Francisco Alves, Nelson GonçalvesAngela Maria, a maioria mantendo um estilo de voz empostada dos sambas-canções lá dos anos 1940 e 1950.



Neste Mesmo Lugar, de Klécius Caldas e Armando Cavalcanti (1956/1973)
Clássico na voz de Dalva de Oliveira, ganha uma versão bastante diferente agora em "Vanusa" (1973), álbum que contém as também destacadas “Manhãs de Setembro” e “What to Do”. Continua romântica, melancólica, mas agora de uma maneira moderna e ao mesmo tempo suave, um pouco diferente de outras regravações feitas. Parece ter mantido a essência mesmo com roupagem nova.



Súplica Cearense, de Gordurinha e Nelinho (1960/1974)
A mais bem arrojada de todas as regravações, não deve nada à principal faixa do álbum "Vanusa" (1974), “Sonhos de um Palhaço”. O baião lançado por Gordurinha quase 15 anos antes é revisitado aqui de uma maneira inovadora e agora até com uma atmosfera mais densa, expressando o desespero de um cearense que não para de implorar a Deus para cessar seu sofrimento com a seca no Ceará. É com certeza o grande destaque dentre todas.


As regravações acima são uma forma de mostrar a versatilidade e a profundidade do legado deixado por Vanusa. São quase 20 álbuns para explorar a genialidade da artista além de “Manhãs de Setembro” e “Paralelas”. E você, já escutou Vanusa hoje?




Caio Andrade é graduando de História da Arte na Escola de Belas Artes (EBA/UFRJ) e Assistente de Pesquisa e Comunicação no Instituto Memória Musical Brasileira (IMMuB) desde 2020. Grande apaixonado por samba, pesquisa sobre o gênero há mais de uma década, além de tocar em rodas e serestas no Rio de Janeiro.

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