Escambo Sonoro

Vagner Faria — Sobrevivente — 2022

quarta, 24 de maio de 2023

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Lançado no último 18 de fevereiro nas plataformas, o álbum "Sobrevivente" (2022) do contrabaixista Vagner Faria é mais um super disco da música instrumental brasileira. Desde seus primeiros trabalhos, "Além do Olhar" (2010), "Enquanto as Folhas Caem" (2014) e "De Braços Abertos" (2019), o músico nascido em Divinópolis (MG) aborda o contrabaixo “na linha de frente” de seus álbuns. A fórmula na qual o instrumento grave aparece em destaque é conhecida há muito, mas ganha nova abordagem quando executada por Vagner.

A faixa homônima que abre o disco, "Sobrevivente", conta com uma melodia bem simples, mas muito marcante e bem construída. Rapidamente, conseguimos cantar o tema sem grandes esforços, o que prova, mais uma vez, a qualidade da melodia. O ostinato inaugural de "Não Mereço a Solidão" abre espaço para um violão que, de alguma maneira, faz lembrar algo mineiro. Seria apenas impressão ou convicção?

Os primeiros segundos de "Flores de Plástico" dão o tom, um tanto quanto barroco, da composição. Os caminhos harmônicos e melódicos do tema guardam características de séculos passados sem, no entanto, parecer caricato. Os bends da guitarra garantem a atualidade e espantam qualquer atmosfera remota. "Ferrorama" muda a direção e leva o ouvinte a uma estação mais agitada do que as outras. As intervenções diminutas dão novo caminho à escuta. Ainda nesta faixa, a levada violonista aplicada ao contrabaixo soa diferente do que até agora nos foi apresentado.

Os "Passos Solitários" trazem diferentes usos das escalas, nas quais, elas permanecem ligadas umas às outras apresentando a harmonia através delas. Assim, o contrabaixo deixa de ser mero coadjuvante e passa a ser protagonista do próprio território. Gradualmente, a alternância entre o ocidente e o oriente acontece de uma maneira bastante fluida nesta composição.

Talvez, o mais expansivo dos temas seja "Terra Seca". Os acordes são colocados distantes uns dos outros, dando ao tema certa largueza e dilatação na escuta. O contrabaixo fretless surge pela primeira vez em "Última Lágrima" e surpreende o ouvinte com sua sonoridade própria. Além disso, parece ser o violão o principal instrumento nesta composição, relegando o contrabaixo à sua posição tradicional de acompanhado. "Sereno" é uma espécie de baião onde ouvimos acentos na melodia tocados pelo violão que lembram, bem de perto, as Minas Gerais.

"Memórias do Coração" é um choro muito interessante. A novidade neste tema é o uso do cavaquinho que dobra a melodia com o contrabaixo. Os caminhos harmônicos merecem ser escutados com muita atenção, principalmente, os últimos acordes. "A Ilha" surge em outro lugar. O uso das pausas dá ao tema um balanço ainda não experimentado no disco. Além disso, há um solo de contrabaixo na segunda parte da música muito instigante e que, por isso, precisa ser ouvido várias vezes.

Vagner se consagra, mais uma vez, ao lançar um disco contendo apenas instrumentos de corda. Ao omitir os instrumentos de percussão, o Sobrevivente  ganha um lugar de destaque no universo do contrabaixo e da música instrumental brasileira. Portanto, se você deseja conhecer mais sobre o trabalho do contrabaixista mineiro, o show gravado em 2018 para o Programa Instrumental Sesc Brasil é um excelente ponto de partida. No repertório, peças eruditas, como o conhecido "Prelúdio de Bach (BWV 1008)" e uma série de músicas autorais dele e de seus companheiros de banda. Os músicos do show são: Renato Saldanha (guitarra e violão), Aulus Mourão (piano e teclado) e Edvaldo Ilzo (Bateria).



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