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Se o samba tem nome, ele é Casuarina

O grupo celebrou 17 anos de carreira no Teatro Rival Petrobrás

segunda, 26 de novembro de 2018

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22 de novembro, Dia da Música e dos Músicos, a lua brilhava alta no céu azul da Candelária a caminho do Teatro Rival Petrobrás. O convite à farra estava feito. Ao som das palmas da mão, do repique, do surdo, do bandolim e do pandeiro, a ordem foi uma só: sambar. E digo mais, se o samba tem nome ele é Casuarina. Nascidos na Lapa, o bairro mais boêmio do Rio de Janeiro, o grupo formado por Daniel Montes (violão de 7 cordas), Gabriel Azevedo (pandeiro e voz), João Fernando (bandolim e vocais) e Rafael Freire (cavaquinho e vocais), subiu ao palco do Rival para comemorar seus 17 anos de carreira e receberam alguns dos compositores que contribuíram pra o projeto de seu novo álbum "+100".

No ano de 2017, Casuarina abocanhou o Prêmio da Música Brasileira como Melhor Grupo de Samba. Agora, em 2018, acabam de lançar "+100", pela Biscoito Fino, composto por 12 canções inéditas, traçando um panorama do atual cenário do samba brasileiro, trazendo à luz a atual safra de compositores do gênero, relembrando os 100 anos de samba. Ao longo do show os rapazes tocaram músicas já consagradas de nomes como Jovelina Pérola Negra, Zeca Pagodinho, Novos Baianos, Dorival Caymmi, renovando os arranjos das canções, além de demonstrar sua identidade própria em músicas autorais. Acompanhados por Julio Florindo, no contra-baixo, com percussão de Rodrigo Reis, Renato Albernaz e Fabiano Salek, do Sururu na Roda.

Na firmeza da frase que introduz o oitavo disco do grupo “O sambista entende que ou ele resiste ou ele desaparece. E está provado que esse artista não vai desistir tão fácil assim” reafirmo que o Teatro Rival é samba e resistência também. +100 é o recomeço. Nesse clima que chegou o primeiro convidado da noite, Marcelinho Moreira, cantando a primeira música do novo álbum, "Trago No Meu Pandeiro", composição dele com Rogê e Fadico. Na sequência, veio o amigo compositor André Cadé que impressionou. Para quem gosta de música de verdade, conheçam esse jovem talento que fez no mundo do samba um coletivo de compositores chamado "AOS NOVOS COMPOSITORES". Levar sabedoria, esperança, informação para a nossa nação permanecer forte sempre, até porque se não for coletivamente, em conjunto, ninguém consegue nada. A galera do coletivo estava lá e quando a música já havia encerrado, cantou em coro uníssono e foi de arrepiar. "Amarra o pau da jangada que vem maré". Guardem esse nome: André Cadé.


A essa altura já estava pulando como um sapo! E falando nisso, o quarteto voltou um pouquinho lá atrás, antes de tudo isso que a gente conhece por samba começar: "Com que Roupa eu vou", "Brasil Pandeiro", "Coração em Desalinho", relembraram clássicos do passado que fizeram o público soltar o gogó e levantar da cadeira. Abrindo o caminho para mais um convidado, cheio de graça e molejo, o onipresente Chico Alves, ovacionado pelo público. Levou com o Casuarina "Um Samba de Saudade", composição sua com o parceiro Toninho Geraes. Fora os grandes sucessos como "Certidão" - música que dá nome ao segundo disco do grupo - de João Fernando e João Cavalcanti, tava na boca do povo. Não faltou "Murmúrio", também de João Fernando em parceria com o grandioso Délcio Carvalho. Um samba gostoso que toca o coração.


Wanderley Monteiro e Alaan Monteiro invadiram juntos pra somar! "Dá pra parar, dá pra esperar, dá pra sonhar que vai chegar". Naquela de "o dia vai e a lua vem", o reduto do batuque carioca tava pegando fogo no palco do Rival. Pura energia! E no primeiro choro do cavaco de Rafael Freire, estávamos todos No Passo de Caymmi.

"Relembrando esses 17 anos de estrada, em 2014 nós gravamos um disco, nosso sexto trabalho, todo ele dedicado a um só compositor brasileiro. Um gênio da nossa cultura popular. Um cara a quem a gente que vive de samba, vive de música, deve muito. A gente tá aqui porque esses caras vieram antes e pavimentaram esse caminho que a gente tenta trilhar. O inigualável Dorival Caymmi", definiu Gabriel Azevedo antes de soltar "Maracangalha".

E ele chegou no ritmo do jongo pra firmar ainda mais o clima, direto da Serrinha: Hamilton Fofão, compositor de mão cheia. Presenteou para o "+100", um samba em homenagem a herança que os grandes mestres nos deixaram, "Herança de Partideiro", que contou com a presença ilustre de Leci Brandão. Ô, Sorte! O último convidado, Leandro Fregonesi, que já foi gravado por Maria Bethânia, presenteou o novo álbum com o samba "Falangeiro de Ogum", em parceria com Raul Dicaprio. Impôs respeito no canto de "Patuá, Pergaminho. Rezo as contas no colar. Não ando sozinho na boca da noite ou no claro do dia, pois tenho meu guia que guarda os caminhos, é o meu orixá".



A presença de novos compositores do mundo do samba, familiares e amigos dos integrantes do grupo, deixou o show com o clima mais íntimo e hora nenhuma deixou de contagiar a todos os presentes na casa, além claro de prestigiarem a gravadora Biscoito Fino. Na plateia, Diego Lara e Lucas Ariel, da gravadora Biscoito Fino, receberam a gratidão do conjunto que declarou estarem felizes por voltarem à gravadora que acredita do potencial da música brasileira. 

Encerraram o show em com a empolgação lá em cima que até as crianças subiram ao palco pra exibir o samba no pé. O grande astro da noite estava ali: o samba. E quando chamaram o som do partideiro com "Retalhos de Cetim", "100 anos de liberdade, realidade ou ilusão" (Mangueira 1988), "Peguei um Ita do Norte" (Salgueiro 1993), as mesas do Teatro estavam ali só pra apoio das tulipas. Eta Lelê, mas ninguém ficou parado! Astral inabalável, pura energia, essa gente do Casuarina veio pra provar o seu valor, segue renovado num time em que, com talento e vivacidade, todos envergam a camisa 10.

Para encerrar a noite, o grupo chamou todos os convidados para subirem ao palco e, juntos, prestaram homenagem ao mestre Wilson Moreira no canto emocionante de "Senhora Liberdade". Falecido em setembro deste ano, Gabriel Azevedo declarou que o grupo Casuarina deve muito a ele que há 17 anos atrás abriu os braços para o grupo já sendo quem ele era, com muito carinho. Aos que admiram o trabalho do sambista, amanhã o Teatro Rival traz o lançamento do último registro fonográfico do grande sambista. Lançando em espirito o seu disco póstumo "Tá com medo, Tabaréu?", direção musical do CD é de Paulão 7 Cordas, que ainda assina os arranjos do disco e dirigirá o show no Rival. Imperdível. Fica a dica!

Os nobres músicos cariocas tornaram-se admirados como artistas do gênero, e +100 anos de Casuarina é o que eu desejo pra eles.



Fotos de Mila Ramos
Texto de Mila Ramos/Luciana Nascentes



Mila Ramos é fascinada por música e foi em seu trabalho com bandas cover em 2012 que encontrou uma nova paixão: o Music Business. Especializou-se em Marketing e Design Digital pela ESPM-RJ e somou seus conhecimentos ao mundo musical como Produtora Artística. Em 2017, entrou para o Instituto Memória Musical Brasileira (IMMuB). Lá chegou ao cargo de Coordenadora de Comunicação e, sob sua gestão, conquistaram o Prêmio Profissionais da Música 2019, e o Programa Aprendiz esteve entre os finalistas de 2021.



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