Jogada de Música

Quando a música vai jogar uma pelada

sexta, 03 de abril de 2020

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Antes de se tornarem craques consagrados, ídolos por alguns jogos ou uma temporada, sendo apenas esforçados, medíocres até mesmo pernas de pau, nenhum jogador de futebol chegou aos grandes estádios sem antes passar por uma pelada, este verdadeiro patrimônio cultural do Brasil. E quase todos voltam a ela todas as férias. Nas ruas asfaltadas - algo praticamente extinto hoje em dia -, em campos de terra batida, na várzea, quadras em praças públicas, clubes ou condomínios fechados, ou nos campos de grama sintética dos últimos anos, a pelada - ou rachão, como se chama em outros locais do país – vai onde bola, meninos e meninas sonhadores estão. E se a bola é cara, improvisa-se. Daí nasceu o nome para este jogo de improviso, quando a bola usada não tinha gomos de couro, era apenas borracha, pelada, portanto. Mas também era feita de jornal e meia, e já foi tampinha de refrigerante, garrafinhas plásticas, copos descartáveis ou qualquer objeto “chutável” nos recreios de colégios públicos ou particulares. Ou em qualquer lugar, até no quarto ou na sala de casa.

Entre as muitas músicas que celebram a brincadeira da bola no pé, logo vem à mente “Bola de meia, bola de gude”, de Milton Nascimento Fernando Brant. Gravada pelo grupo 14 Bis no seu segundo disco, de 1980, retrata a infância dos jogos de bola, das outras brincadeiras e de amizades que muitas vezes são moldadas para durarem uma vida inteira.

Numa música muito pouco conhecida chamada “Futebol”, o gaúcho Nelson Coelho de Castro aborda de forma soturna o lado cruel da meninada nas peladas e, também, aquela dura batalha que vai enfrentar depois na vida adulta. Quando não é drible, é o rito de passagem. É o futebol como analogia das botinadas do dia a dia. O personagem da canção dribla, dribla, dribla e parece nunca achar o seu espaço. A música foi gravada por Nelson no CD “Da pessoa”, de 2001.


Porém, via de regra, sendo clara ou não, nada é mais democrático do que a pelada. E ela foi cantada e jogada por muitos craques da Música Popular Brasileira. No início dos anos 70, uns hippies vieram da Bahia e alugaram um sítio em Jacarepaguá para compor, cantar, tocar e jogar futebol. Eles também formaram um time, que além de se apresentar em todo o país naquela época, deu nome a um dos seus mais destacados álbuns: Novos Baianos Futebol Clube. Para aquele disco, de 1973, Galvão e Moraes Moreira compuseram “Só se não for brasileiro nessa hora”, um verdadeiro clássico musical da pelada de rua, uma espécie em extinção. 


E eu, que voltei a jogar uma pelada depois de seis anos de afastamento voluntário, tive – juntamente com meus companheiros - de interromper a temporada que mal se iniciara para respeitar a quarentena. Porém, essa bola aqui no IMMuB não vai parar de rolar. Até maio com uma homenagem a um gigante que se tornará septuagenário no mês seguinte. 

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