Um papo com o Cazes

Os festivais de choro de ontem e de hoje (PARTE 2)

terça, 27 de abril de 2021

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E chegamos a 2021, em plena pandemia e ao saber que ocorreria 6º Festival Rio Choro – Mostra Virtual Competitiva, pensei três coisas. Primeiro, com o confinamento, os compositores de choro, que em boa parte são músicos profissionais bem ativos, teriam tempo para caprichar nas composições. Segundo, com a disseminação do processo de gravar em casa, acelerado sensivelmente pela pandemia, as gravações das músicas concorrentes seriam, em sua maioria, feitas sem os músicos tocarem juntos. Terceiro e aí não era um palpite, mas uma certeza: os valores dos prêmios iriam mobilizar os autores num momento de paralização dos trabalhos presenciais. 

Mas antes de entrar no festival desse ano, queria fazer um convite e um pedido aqui. Depois da publicação da coluna do mês passado, vários músicos vieram lembrar de Festivais que não foram citados, de 1982 e 83 e completar as parcas informações que encontrei na hemeroteca sobre os Festivais de 1994 e 95. Pensei então que seria oportuno criarmos uma memória para todos os Festivais de Choro, de dentro e de fora do Rio. Lembrei de um em Indaiatuba, em que participei do júri a convite do saudoso Zuza Homem de Mello e de uma final que assisti no auditório do Bennet, no bairro do Flamengo e que teria acontecido em 1983. Por tudo isso, convido os músicos e curtidores do choro a mandarem informações, recortes de jornal, programas de etapas eliminatórias e finais, para o email: 

henriquecazes@immub.org, de maneira que possamos reunir mais dados sobre festivais do passado.  

Do anúncio do Festival até o convite do idealizador e diretor Mário Sève para participar do júri que iria selecionar 48 semifinalistas, foi tudo bem rápido. O regulamento trouxe novidades como a área da canção, normalmente um terreno separado do choro e uma etapa de júri popular, votado através de “like” no YouTube. Mas, surpresa mesmo foi quando chegou a lista de inscritos: 273 músicas. Recebemos as músicas (e as letras das canções) sem informação de autor e com um prazo razoável para avaliar aquele extenso material. A proporção de canções e instrumentais era de 15% e 85%, respectivamente. 

Nessa primeira etapa, o júri era composto de músicos que trabalham com o choro em suas várias vertentes e chegou sem maiores discordâncias a uma relação de 48 semifinalistas, mantendo a proporção canção/instrumental. A playlist com as 48 músicas foi então liberada para o público e aí aconteceu algo acima da melhor expectativa. Pelo que pude apurar, tanto junto a músicos quanto a um público com menos intimidade com o choro, o material foi percebido como de alta qualidade, com diversidade de instrumentações e abordagens, mesmo com gravações de níveis de acabamento sonoro e musical muito distintos. Ao fim dessa etapa, o voto popular escolheu o choro “Sorridente” de Marlon Julio, violonista do grupo Os Matutos, Prêmio Waldir Azevedo e o samba choro “Preciosa” de Claudio Nucci e Juca Filho, dentre as canções, Prêmio Aldir Blanc.

E um segundo júri, com um perfil menos chorão, escolheu as 10 finalistas. Na etapa final, os dois júris reunidos deram notas que só podiam ser 10 para a primeira colocada, 9,5 para a segunda e 9 para a terceira e se chegou a um resultado final, sem maiores polêmicas internas.

Mas nunca existiu e nem existirá uma mostra competitiva em que todos fiquem satisfeitos com os resultados e logo que foi publicada a lista de finalistas começaram os questionamentos, alguns bem interessantes. Um dos eixos de discussão foi o peso da interpretação na avaliação de um choro. Seria possível separar de fato a avaliação da composição da performance do intérprete? Eu acho que não e que isso é justamente uma das magias do choro, um fator que nos seduz e conquista para gostar de uma obra. 

De todo jeito, após ouvir novamente as duas listas, de 48 semifinalistas e das 10 finalistas, me arrisco a dizer que a lista mais ampla é a que traça um retrato atual criação na área do choro de forma mais equânime e representativa. Nela estão melhor representadas as diferentes facções, as bordas do universo do choro e a liberdade que o saudoso maestro Gaya defendia. Que venham mais festivais como esse!

Henrique Cazes

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