Música

O baterista Vanderlei Pereira lança ‘Vision for Rhythm’, seu primeiro CD

quarta, 06 de janeiro de 2021

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O baterista Vanderlei Pereira vive em Nova York há 30 anos, e é um dos mais atuantes do ‘jazz brasileiro’ naquela metrópole.  Em quase todos os ensaios de sua banda, Vanderlei chegava com mudanças de arranjos. Um dia os músicos reclamaram que as partituras estavam ficando impossíveis de ler com os rabiscos. Vanderlei sugeriu que decorassem as músicas, como ele mesmo, cego, sempre fez, e talvez, usassem vendas nos olhos na performance das músicas mais difíceis. Deu certo. A banda toda topou, e assim nasceu a Blindfold Test, a banda Teste de Olhos Vendados, que lança, agora, para o mundo, seu primeiro CD, "Vision for Rhythm".

Vanderlei Pereira lidera a banda com sua bateria, é autor de algumas músicas e faz os arranjos. A formação da Blindfold Test é variada e agrega desde brasileiros residentes, ou de passagem por Nova York, como Jorge Continentino e Rodrigo Ursaia (sopros); Gustavo Amarante e Itaiguara Brandão (baixos); e os norte-americanos Susan Pereira (voz/percussão), Deanna Witkowski (piano) e Paul Meyers (violão).

Foto: Janis Wilkins

 A cena musical brasileira em Nova York é descrita assim por Vanderlei: "É muito rica e abrange os mais variados estilos. São shows que acontecem semanalmente ou  quinzenalmente em clubes e restaurantes espalhados por Manhattan, ou nos bairros das redondezas. São grupos formados por músicos brasileiros e não brasileiros, mas competentes suficientemente para tocar choros, forrós, maracatú, samba-Jazz, sem deixar de lado a Bossa Nova."

Sobre os desafios com sua deficiência, Vanderlei conta: “Tento manter uma atitude positiva. Tive que lidar com a perda quando já trabalhava como músico. Levou mais de 20 anos para aceitar a cegueira completamente e desenvolver a capacidade de ver as coisas com positividade. Tento compartilhar um pouco desse otimismo. Odiaria pensar que sentem pena de mim. Sou cego, mas e daí? Tenho a música e minha própria maneira de ver as coisas”.

Natural de Macaé (Rio de Janeiro), Vanderlei é de uma ‘família musical’. Seu pai, Licínio, tocava violão e seus irmãos Dirceu, baixo, e Dulcilando, sax. Este último, conhecido como ‘Maestro Macaé’, tocou em LPs/shows de Chico Buarque, Simone, Adriana Calcanhoto e Djavan. Eram os anos 1970 e Vanderlei quis seguir o mesmo caminho do irmão na capital do Rio. Como tinha estudos em música clássica, além de tocar bateria em bandas de jazz, MPB e pop, conseguiu estágio na Orquestra Sinfônica Brasileira (OSB), participando de concertos com regência de Isaac Karabtchevsky, por exemplo.

À medida que seu problema visual progredia e sua visão se deteriorava, ele percebeu que não podia continuar atuando no campo clássico, por não conseguir ler partituras. Passou a atuar mais com música popular, trabalhando com Leila Pinheiro, Sivuca, Rildo Hora, Johnny Alf, e vários outros.

Em pé, da esquerda para a direita: Jorge Continentino (sopros), Susan Pereira (voz/percussão), Paul Meyers (violão), Gustavo Amarante (baixo), Deanna Witkowski (piano). Sentado: Vanderlei Pereira (bateria/arranjos). (Foto: Janis Wilkins)

Em 1988, desembarcou em Nova York, nos Estados Unidos, onde, além de estudar, tem atuado com artistas brasileiros que vivem naquele país. Destaca ainda aulas de ritmos afro-cubanos com Bobby Sanabria – que escreveu o texto do encarte do CD – e jazz, com John Riley e Vernel Fournier. Todos norte-americanos.

As músicas de Vanderlei trazem influências diversas. Ponto de Partida mixa partido-alto com jazz, enquanto "O Que Ficou" é, segundo Vanderlei, “um samba lento com toque saudoso de bossa nova”. De Volta à "Festa", toma como inspiração um amigo nova-iorquino que passou um carnaval em Recife, adorou o frevo e quis dançar na rua. “Ele gostou de tudo mas dançava muito desajeitado. Isso me estimulou. Intencionalmente quebro regras do frevo, tendo como influência bateristas de jazz, alterando o fraseado comum do Brasil para o daqui.  Já em 'Vision for Rhythm', quis um solo. A bateria nasceu no jazz e tem possibilidades além do ritmo. Aqui há um diálogo melódico entre tambores e caixa”.

Ainda no CD, obras de Airto Moreira ("Misturada (Mixing)"), Antonio Adolfo ("Partido Leve") e Edu Lobo ("Corrupião (Oriole)"), e outros. Vanderlei: “Um velho sonho que se tornou realidade. Fiquei fascinado quando ouvi 'Misturada', na adolescência, um samba em 7/8 em vez de 2/4; em 'Partido Leve' optei por um andamento mais lento que o original, e dei um ‘quê de John Coltrane’ na faixa inteira, e 'Corrupião' é a fusão de baião, coco e forró, com o ‘approach’ do jazz”.

Ouça agora o álbum (clique aqui!) 

Encaminhado por: Moisés Santana

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