Supersônicas

Novo disco do craque Chico Buarque balança as redes sociais

por Tárik de Souza

quarta, 30 de agosto de 2017

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Enquanto os haters ladram, “Caravanas” (Biscoito Fino) - o novo CD de Chico Buarque – passa. Com garbo. Logo de saída, houve questionamento da ativa PPC (Patrulha Politicamente Correta) quanto ao machismo da letra da valsa lundu “Tua cantiga” (parceria com Cristovão Bastos). Confundiram autor (da letra) e personagem (como faz certo público das novelas) no trecho “quando teu coração suplicar/ ou quando teu capricho exigir/ largo mulher e filhos/ e de joelhos/ vou te seguir” – que remete a sua obra prima anterior, “Você vai me seguir”, parceria com Ruy Guerra, do disco “Meus caros amigos”, de 1976.

O sutil troco aos detratores vem no desconstruído samba canção “Desaforos”: “Ouço dizer, mas deve ser mentira/ nem tua ira eu acredito que mereça/ ou que vires a cabeça pra enxergar no breu/ um vagabundo como eu”. A desconstrução melódica, emoldurada por letras desiludidas perpassa o roteiro, como no samba desidratado “Jogo de bola” (“há que levar um drible / por entre as pernas sem perder a linha/ há que aturar uma embaixadinha, deveras/ como quem tira o chapéu para a mulher que lhe deu o fora”).  Ou no dissonante “Blues para Bia”, onde seu celebrado eu lírico feminino traveste-se: “No coração de Bia/ meninos não tem lugar/ porém nada me amofina/ até posso virar menina/ para ela me namorar”. Há ainda um bolero bilíngüe, “Casualmente” (parceria com o baixista Jorge Helder), escrito para a diva cubana Omara Portuondo.

E mais: Chico repesca duas antigas, “A moça do sonho”, parceria com Edu Lobo, do subestimado musical “Cambaio” (2001) e a valsa espiral “Dueto”, que dividiu com Nara Leão, em 1980, e agora conta com a límpida voz de Clara Buarque, sua neta. Outro neto, Chico Brown (ambos filhos do compositor Carlinhos Brown) é co-autor com o solista, de “Massarandupió”, nome de uma praia baiana, com área naturista. Também praieira é a multiforme (do jazz ao funk) “As caravanas”, que descreve, sem meias tintas, o apartheid carioca – “dos suburbanos, tipo muçulmanos, do Jacarezinho/ a caminho do Jardim de Alah”. E dispara: “Com negros torsos nus, deixam em polvorosa/ a gente ordeira e virtuosa que apela/ pra polícia despachar de volta o populacho pra favela/ ou pra Benguela, ou pra Guiné”. 



Fonte da imagem: http://bit.ly/2iI51zU 

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