Tema do Mês

Nelson Gonçalves e Adelino Moreira

PARTE 2: A dupla das paradas de sucesso

quarta, 19 de junho de 2019

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Adelino Moreira nasceu em 1918 no distrito do Porto, em Portugal, mas mudou-se para o Brasil ainda criança, na década de 1920. Apaixonado por música, experimentou uma breve e irregular carreira de cantor ao longo da década de 1940, mas sua verdadeira paixão era mesmo compor. Seu sonho era ver suas palavras e melodias ganhando as paradas de sucesso nas vozes de grandes intérpretes.

E esse sonho não demorou muito a se concretizar. Em 1952, foi apresentado a um dos cantores mais populares de sua época, e um de seus favoritos: Nelson Gonçalves. Adelino lhe apresentou uma composição chamada "Última seresta". Nelson ouviu, gostou e gravou. Iniciou-se, assim, uma das parcerias mais longevas e marcantes da música popular brasileira.

Essa união impulsionou não só a carreira de Adelino: foi nessa época que Nelson Gonçalves atingiu o auge de sua carreira, lançando um sucesso atrás do outro. Canções que acabaram se tornando verdadeiros clássicos da música popular brasileira. Para ficar em apenas alguns exemplos, citamos:  "Meu vício é você", "Negue", "Fica comigo esta noite", "Escultura", e, claro, "A volta do boêmio". Esta última vendeu um milhão de cópias, uma cifra impensável para a época, tornando-se o maior sucesso da carreira de Nelson Gonçalves. Fato curioso é que essa canção é uma espécie de continuação da música que inaugurou a parceria entre Nelson e Adelino. Enquanto em "Última seresta" um homem despede-se da boemia e dos amigos, em "A volta do boêmio" ele é retratado voltando, anos depois, a essa mesma boemia, reivindicando sua “nova inscrição.”

Essa parceria rendeu, portanto, clássicos definitivos para o cancioneiro nacional. Segundo o pesquisador Paulo César de Andrade, foram 169 canções de Adelino gravadas por Nelson Gonçalves, um número surpreendente, que comprova a consistência da dupla.  E para além de todos esses clássicos, a parceria também foi responsável por revelar uma outra faceta de Nelson Gonçalves: a de compositor. Junto com Adelino, chegou a compor algumas músicas, como a brilhante "Escultura": “Cansado de tanto amar/ Eu quis um dia criar/ Na minha imaginação...”.

Segundo o pesquisador Jairo Severiano, pode-se afirmar que 20% do repertório de Nelson Gonçalves é formado por canções de Adelino Moreira, o que mostra uma rara fidelidade entre intérprete e compositor. Pra se ter uma ideia de como os dois convergiam artisticamente, Nelson chegou a afirmar certa vez que gostaria de ser lembrado na posteridade pela música "Última seresta", justamente a primeira composição de Adelino que ele gravou. 


Texto por: Tito Guedes 
Fontes: 
BARROSO, Marco Aurélio. A revolta do boêmio: a vida de Nelson Gonçalves. Rio de Janeiro: Editora do Autor, 2001
SEVERIANO, Jairo. Uma história da música popular brasileira: das origens à modernidade. São Paulo: Editora 34, 2008.


Este é o segundo de uma série de 3 textos sobre o centenário de Nelson Gonçalves, uma das maiores vozes da música brasileira . Fique ligado em todos os capítulos dessa história: 

Parte 1 - O surgimento do boêmio 

Parte 2 - Nelson Gonçalves e Adelino Moreira (lendo agora) 

Parte 3  - A despedida do boêmio 

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