Tema do Mês

Martinho da Vila - 85 Anos Devagar, Devagarinho

terça, 07 de fevereiro de 2023

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“Todo mundo pensa que eu sou baiano.
Mas eu nasci no carnaval de 38 em Duas Barras, estado do Rio.
Fui criado na Serra dos Pretos Forros, num morro meio alumeirado, que a Helena de Lima cantou num lindo samba do João Laurindo. Não é, Romeo?
A Serra fica lá na Boca do Mato, meu primeiro reduto de samba, o bairro que ficou famoso por causa do velho casarão da Tia Zulmira, muito falado pelo Ponte Preta.
Pra ser o Martinho da Vila, eu tive que fazer um samba.”
Martinho da Vila, 1969.


E foi com essa introdução que Martinho da Vila debutou na indústria fonográfica. “Martinho da Vila” (1969) foi o primeiro álbum solo do sambista, que já havia participado no ano anterior do primeiro disco de sambas-enredo do Brasil e de mais um projeto ao lado de outros sambistas com “Nem Todo Crioulo é Doido”, em que apresentou a primeira versão de “Pra Que Dinheiro?” e assinou o texto da contracapa.

Fevereiro, mês de alegria, de folia, de samba e carnaval. Ninguém melhor que Martinho José Ferreira para representar isso tudo, não é? E o mais curioso é ele ter nascido justamente no carnaval de 1938. Não pode ser coincidência.

O Martinho de Todas as Vilas

Martinho “da Boca do Mato”, em referência à Aprendizes da Boca do Mato, primeira agremiação na qual o sambista se destacou, só viraria “da Vila” nos anos 1960. Foi no bairro de Noel que Martinho lançou suas primeiras composições bastante famosas no carnaval: “Quatro Séculos de Modas e Costumes” e “Iaiá do Cais Dourado”. Na década seguinte, ele gravaria diversos enredos cantados até hoje, alguns de sua autoria: “Memórias de um Sargento de Milícias” (Portela, 1966), “Onde o Brasil Aprendeu a Liberdade” (Vila Isabel, 1972), “Aquarela Brasileira” (Império Serrano, 1964). Alguns desses belíssimos enredos não chegaram a ir para a avenida, como é o caso de “Tribo dos Carajás” (1974) - problemas com a ditadura - e “Iemanjá, Desperta” (1977). 

Mesmo vivenciando o auge artístico nos anos 1970 (“Segure Tudo”, “Balança Povo”, “Canta Canta, Minha Gente”...), Martinho nunca decaiu do patamar que atingiu, mesmo nos anos seguintes. Ele sempre lançou trabalhos relevantes na música e em outras áreas da cultura.

Curioso com as nossas raízes, pesquisou nossas origens africanas, indígenas e portuguesas, tendo excursionando à África, promovendo encontro com diversas personalidades negras e pesquisando nosso folclore. Resultado disso são trabalhos como os livros “Vamos Brincar de Política?” (1986) e “Kizombas, Festas e Andanças” (1992), além dos álbuns “O Canto das Lavadeiras” (1989), “Lusofonia” (2000) e “Brasilatinidade” (2005). 

Uma figura querida, inteligente, imponente…faltam adjetivos para definir Martinho e mensurar a profundidade de sua obra - será que ela pode ser mensurada?

Saudemos Martinho e toda sua potência! Parabéns, da Vila!

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