Amigo ao Peito

Leo Brouwer 80 Anos

domingo, 22 de setembro de 2019

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Hoje falaremos do oitentão Juan Leovigildo Brouwer Mezquida. Ou, mais simplesmente, Leo Brouwer.  

Leo nasceu em Havana, Cuba. Estudou violão com o compatriota Isaac Nicola, discípulo de Emilio Pujol, e é apenas o compositor de música contemporânea mais tocado no mundo, não apenas no violão.

É sobrinho de Ernesto Lecuona, autor da famosa Malagueña, e primo de Margarita Lecuona, autora do sucesso dos anos 50 Babalú. Músicas que tocaram no mundo todo, sucessos planetários. Leo cresceu ouvindo isso, e em suas músicas encontramos, aqui e ali, alguns ecos. Dessas e das músicas que seus compatriotas cantavam. Em cada peça de concerto, em cada peça complexa, temos aqui e ali a lembrança dos sons de sua infância.

Aqui o violonista uruguaio Alvaro Pierri toca uma canção de ninar cubana em arranjo de Brouwer, o autor ao lado:


Nos fixando em nosso instrumento, trata-se de um inovador, de um desbravador. Seus Estudos Sencillos são obra fundamental para qualquer estudante, suas peças de mais fôlego fazem parte do repertório de todo concertista no mundo. 

Como faço normalmente, prefiro contar histórias curtas que, às vezes, falam mais da pessoa que do artista famoso. Uma já contei aqui, repito integralmente:

Teatro lotado, orquestra, Egberto solando ao violão e Leo Brouwer regendo. A orquestra para e Egberto toca a cadenza, um longo improviso. A música era em . Ele improvisa, modula para Ré bemol, de pura maldade, e volta ao tema, para a orquestra entrar (explicando: uma brincadeira perigosa, a orquestra entraria fora do tom). Leo percebe e, sem que a plateia veja, faz sinal de “não”, balançando o dedo indicador. O solo continua, ele passa para Mi bemol, novamente Leo faz o gesto de “não”. Rindo. Egberto resolve entregar o tom correto, e antes de chegar ao fim Leo já está em posição de mandar a orquestra tocar. 

Dois malucos irresponsáveis se comunicando por telepatia – e música. 

O concertista Max Riccio tem uma história que o liga a Brouwer de uma forma muito bonita. Quando garoto, muito pobre, um dia ganhou um disco gravado por Turibio Santos, Grandes Sucessos do Violão Latino Americano. Nunca tinha ouvido violão clássico, mas quando ouviu Elogio de La Danza, de Brouwer, descobriu o que queria fazer da vida. Quando esteve por aqui em 2011, Max foi ter uma aula com ele – e não contou essa história linda! Quando fui pegar o maestro para almoçarmos, contei tudo – e Leo chorou. 

Aqui Max tocando a peça:


Sua peça mais revolucionária e marcante talvez tenha sido La Espiral Eterna. Uma música instigante, que precisa ser ouvida. Aqui o vídeo, tocada pelo autor:


Vários músicos se debruçaram sobre essa obra. O violonista uruguaio Eduardo Fernandez escreveu um artigo excepcional para a revista Guitar Review, reproduzido aqui:

https://classicalguitardatabase.blogspot.com/2012/11/cosmology-in-sounds-on-leo-brouwers-la.html

Essa música “fala” da linguagem do cosmo, do espaço, do infinito. Mas fala de outras coisas, também...

Alguns anos atrás, num festival, estávamos ele, eu e o querido Paulo Bellinati conversando, e Leo nos ensinava a melhor forma de acender um charuto, um belo puro com o qual nos havia presenteado. Falou sobre sua confecção, descreveu poeticamente a beleza das moças que trabalham nisso, colocou-lhes flores na cabeça, vestidos coloridos, todas enrolando a mão cada peça individualmente em salas com grandes janelas e vista para o mar. E disse que a melhor coisa era compor fumando um destes, observando no ar as espirais da fumaça... 

Ele deu uma especial ênfase à palavra espirais. Me deu um clique na cabeça, e resolvi perguntar:

-Mas, Leo, essas espirais... Seriam eternas?

Ele sorriu um sorriso maroto e confirmou com a cabeça.

Salve Brouwer, gênio que consegue ligar as espirais da fumaça de um charuto às espirais das galáxias em movimento.


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