Colunista Convidado

Herivelto Martins em cinco regravações

domingo, 30 de janeiro de 2022

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Herivelto Martins, talvez tenha sido um Noel Rosa menos lembrado, suas composições não devem nada às do Poeta da Vila. Entretanto, elas trazem um Rio diferente do Rio de Janeiro de Noel.

O que era algo marginal e até mesmo embrionário, se torna sofisticado, atração principal das rádios, boates e cassinos. O Samba Canção (principal gênero de Herivelto) era algo que por volta de seus anos áureos, entre as décadas de 1940 e 1950, fosse a atração principal.

Em um tempo menos americanizado, mais ufanista (sem tanto apelo político, mas com um leve apelo político), o samba era diferente, assim como a cidade.

Por isso, hoje vou trazer cinco regravações de Herivelto Martins que precisam ser redescobertas.

1. Nega Manhosa - Zeca Pagodinho

No seu álbum de estreia, Zeca Pagodinho regravou uma das composições que melhor retrata a época em que vivia Herivelto. Composta apenas por ele, a música traz o que pode ser o diálogo de um homem com sua esposa. E, como podemos ver, o abuso pode ser retratado não só pela letra, mas pelo fato da mulher não ter voz e só serem pensadas às vontades do marido. Em uma letra que hoje em dia pode ser condenada, mas que serve para mostrar o que eram os anos 40 e 50. O samba é uma crônica da época e da vida da classe média, como mostra a letra:

Levanta, levanta, nêga manhosa
Deixa de ser preguiçosa
Vai procurar o que fazer
Nêga, deixa de fita
Prepara a minha marmita
Levanta nêga, vai te virar
Deixei embaixo do rádio
Uma nota de 50
Vai à feira, joga no bicho
Vê se te aguenta
Economiza, olha o dia de amanhã
Eu preciso do troco
Domingo tem jogo no Maracanã
Do bate bola eu sou um fã

A pergunta que fica é “Isso seria aceito, hoje em dia?”


2. Lá em Mangueira - Martinho da Vila e Originais do Samba

O morro naquele tempo não era tão bem aceito como hoje em dia, era excluído, marginalizado e berço do Samba. Talvez, por isso, o estilo tenha sido proibido por tanto tempo. Composta por Herivelto Martins e Heitor do Prazeres, a versão com Martinho da Vila e Originais do Samba, traz consigo um “Ar nostálgico”. Assim como toda a cidade, o Morro também era mais romântico, da mesma forma como toda sua pobreza é retratada (ou não) neste samba, que mostra um pouco de como era a vida em Mangueira.

Lá em Mangueira
Aprendi a sapatear
Lá em Mangueira
É que o samba tem seu lugar
Foi lá no morro
Um luar e um barracão
Lá eu gostei de alguém
Que me tratou bem
Eu dei meu coração
No morro a gente
leva a vida que quer
No morro a gente
gosta de uma mulher
E quando a gente
deixa o morro e vai embora
Quase sempre chora
Chora…


3. Izaura - João Gilberto e Miúcha

No álbum “João” de 1973, o encerramento com a canção Isaura, encerra com Chave de Ouro, o que é para muitos o maior álbum de João Gilberto. Não precisa explicar muito, essa é uma canção de amor, que fala sobre um casal que precisa se despedir, mas não consegue. João Gilberto, consegue modernizar, além de dar um tom baiano a uma poesia tão Carioca. Composta em parceria com Roberto Roberti, a canção traz a poesia na sua simplicidade sem perder sua beleza.

Ai, ai, ai, Izaura
Hoje eu não posso ficar
Se eu cair nos seus braços
Não há despertador
Que me faça acordar
Eu vou trabalhar
O trabalho é um dever
Todos devem respeitar
Oh! Izaura, me desculpe
No domingo eu vou voltar
Seu carinho é muito bom
Ninguém pode contestar
Se você quiser eu fico
Mas vai me prejudicar
Eu vou trabalhar


4. Carlos Gardel - Nelson Gonçalves

E quem diria até no Tango ele também atacou, “Carlos Gardel” é uma das canções mais conhecidas de Nelson Gonçalves. Composta em parceria com David Nasser, a canção é uma homenagem ao cantor de tango morto em 1935. Até os anos 60, a música latina fazia muito sucesso no Brasil. Os sons argentinos em especial eram muito populares por aqui, sendo eles até uma influência para o Samba Canção. Por isso, vale a pena conferir essa incrível versão de Nelson Gonçalves.

Tangos bandoneons uma guitarra que geme
Num ritmo de amor desesperado
Um cabaré que fecha suas portas
Uma rua de amor e de pecado
Um guarda que vigia numa esquina
Um casal que anda a procura de um hotel
Um resto de melodia um assovio
Uma saudade mortal
Carlos Gardel
Carlos Gardel
Buenos Aires cantava no teu canto
Buenos Aires chorava no teu pranto
E vibrava em tua voz Carlos Gardel
O teu canto era a batuta de um maestro
Que fazia pulsar os corações
Na amargura das tuas melodias
Carlos Gardel
Se cantava as tragédias das perdidas
Compreendendo suas vidas
Perdoava seu papel
Por isso enquanto houver um tango triste
Um otário um cabaré uma guitarra
Tu viverás também
Carlos Gardel


5. Ave Maria do Morro - Scorpions

Até mesmo uma das maiores bandas de Hard Rock do mundo já regravaram o nosso Compositor. Uma de suas músicas mais famosas também ficou bastante conhecida pela versão dos Scorpions. Aqui já podemos ver um pouco mais das características do Morro, como “O Barracão de Zinco, sem telhado, sem pintura”. Essa canção é uma crítica até um pouco velada a situação em que as pessoas viviam no morro, e como a fé os ajudavam a suportar as adversidades.

Barracão de zinco
Sem telhado, sem pintura
Lá no morro
Barracão é bangalô
Lá não existe
Felicidade de arranha-céu
Pois quem mora lá no morro
Já vive pertinho do céu
Tem alvorada, tem passarada
Alvorecer
Sinfonia de pardais
Anunciando o anoitecer
E o morro inteiro no fim do dia
Reza uma prece ave Maria
E o morro inteiro no fim do dia
Reza uma prece ave Maria


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