Resenha do Pietro

Gilsons e os Encontros de "Pra Gente Acordar"

domingo, 27 de fevereiro de 2022

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Pra você, qual é o melhor encontro? Com a pessoa amada? Com a família? Já sei! Com a cidade que nasceu? Com o Carnaval talvez? Ou consigo mesmo?  Bom, seja qual for, "Pra Gente Acordar", o primeiríssimo álbum dos Gilsons, contempla todos eles.

Francisco, João e José, respectivamente netos e filho de ninguém menos que Gilberto Gil, juntos formaram a Gilsons, que segundo eles não é uma banda, mas adivinha só, um encontro. A parceria vem desde a Sinara, banda em que eles participaram há uns anos, e se estendeu com a decisão de se reunirem os três em um novo projeto. 

Foi então que em 2019 eles lançaram o aclamadíssimo EP "Várias Queixas", que estourou sobretudo com a faixa homônima e "Love Love", mas as outras três também são deliciosas e, no fim das contas, parecem uma música só.

E falando em unidade - é curioso como eles vêm conseguindo criar uma identidade pro grupo. A procura por uma sonoridade própria volta e meia esbarra no Gilberto Gil, mas isso não é um problema, muito pelo contrário. Eles entenderam muito bem o lugar do patriarca como referência, ao mesmo tempo em que  fazem questão de não ser uma extensão do Gil.

Foto de Zabenzy

Bom, e depois de alguns singles e muito expectativa, a gente chega em "Pra Gente Acordar" - um disco que trata dos diferentes tipos de encontros, de amor e de esperança. 

A música homônima abre o trabalho dando o tom da busca que eles desenvolvem ao longo do disco por algo melhor. É sobre pensar num futuro de uma forma quase utópica. E lembra que eu falei do encontro? 

Então, já na faixa seguinte, "Vem de Lá", eles falam da distância que vai ficando cada vez menor entre dois amantes durante o carnaval e tudo isso ganha um novo significado sobretudo depois do contexto pandêmico que a gente viveu. 

O encontro num sentido romântico, por sua vez, aparece mais nas faixas "Dês", que nasceu no carnaval de salvador,  e "Um Só", uma composta pelo  Francisco e outra pelo João. Nesse sentido, eu acho maneiro dizer que no Gilsons os três cantam, tocam e compõem, o que dá uma dinâmica legal pro grupo uma vez que são três perspectivas diferentes tratando dos mesmos assuntos.

Enfim, no meio do álbum estão os dois singles já lançados previamente, "Proposta" e "Duas Cidades", que é a minha música favorita do disco: dá sequência a narrativa que eles estão desenvolvendo e vai refletindo sobre o percurso até o reencontro - seja entre pessoas ou cidades - que no caso deles seria Rio e Salvador, até porque boa parte das referências deles passam por esses lugares - o ijexá, o samba, axé e muito mais.

E caminhando pro final do disco as coisas vão se amarrando, ou melhor, se encontrando. Em "Bela", o João fez uma homenagem a sua avó Belina Aguiar, a primeira mulher de Gilberto Gil, como presente aos 80 anos dela. A Bela era poetisa e professora de redação, por isso as referências à força das palavras - essência da família Gil.

Em seguida, "O Dia Nasceu", que quase fecha o disco, se conecta com o desejo de um novo dia expresso na primeira faixa, "Pra Gente Acordar". Como o nome sugere, a esperança vem se concretizando e o encontro, seja qual for, é iminente.

"Voltar à Bahia" fecha o álbum e usa esse lugar como simbolismo de origem, onde eles se reencontram consigo de forma física, espiritual e ancestral. O arranjo de cordas do lendário Jacques Morelenbaum é lindo demais e faz dessa música a mais encorpada, digamos assim, do disco. 

No final das contas, a linha de chegada é o ponto de partida. Os Gilsons passeiam pelos encontros que permeiam a existência deles e entregam um disco que soa como um respiro em meio aos tempos turbulentos que a gente vive.


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