Germano Mathias: o beat box do samba paulistano

Nasceu em 1934, entre as duas Grandes Guerras Mundiais, representante de uma expressão do samba carregada de simbologias.

São Paulo tem seus ícones, como a Praça da Sé, o “italianês” empregado no samba de Adoniran Barbosa, a Rádio Tupi.

Germano, no entanto, é filho de imigrantes portugueses, e entre fados, viras, foi para o trabalho cedo, camelô, “marreteiro”, vendia pomadas anticoceira. Ouvindo os ruídos urbanos do centro de São Paulo, foi encorpando seu acervo musical, batucando em latinhas vazias de graxa, deixadas pelos icônicos engraxates da Praça da Sé.

No Rio de Janeiro as escolas de samba formavam suas identidades, Cartola, Nelson Cavaquinho, Padeirinho, Zé Kéti, na Estação Primeira de Mangueira, já eram reconhecidos compositores.  Germano visitou a Mangueira e encantou-se com as composições de Zé Kéti e Padeirinho, tornando-se, desse último, o seu maior intérprete.

Seu viés cômico, seu gestual, a forma peculiar de fazer sons de instrumentos com a boca lhe rendeu destaque, Germano passa a ocupar lugar de honra entre tradicionais espaços de samba e adentra a um universo quase que iminentemente negro, sendo recebido com o respeito que merece aquele que trata o samba como expressão cultural de peso nacional.

Passa a ser chamado de “O catedrático do samba”, pois é analista, estudioso, pesquisador e curioso.  Grava compactos, aqueles discos de duas faces, com uma música de cada lado, mídia de sucesso popular nos anos 1950 a 1970.  Os títulos, que segundo José Saramago, representam metade do conceito da obra, se relacionam com sua personalidade:  “Minha nega na janela”, “Malvadeza Durão”, “Dinheiro de Jogo”, “Ginga no asfalto”, “Samba de branco”, “Malandro de araque”, “Guarde a sandália dela”, sempre com aparente provocação e humor, mas repleto de consciência e crítica social.

Repertório permeado de clássicos, como “Favela”, de Padeirinho, “Lata D’água”, de Candeias Júnior, além de ter cantado a Estação Primeira de Mangueira como poucos.

Germano está ativo, esteve nas comemorações do Dia Nacional do Samba, no Teatro Municipal de São Paulo e, reverenciado pelos amigos, parceiros e fãs, deu um show de energia e samba paulista da melhor qualidade.

Rita Alves