Ponteio

Foi um Paulinho que passou em minha vida

quinta, 17 de novembro de 2022

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Paulo Cesar Batista de Faria é uma figura ímpar. Sóbrio, gentil, educado, polido, me lembra um lorde ou um príncipe. Poderia, tranquilamente, ser um diplomata, embaixador ou qualquer cargo que exigisse suas incríveis e soberanas virtudes como homem. 

Mas no caminho de Paulo tinha Benedicto, seu pai. Entre tantas qualidades daquele senhor, uma delas era ser violonista e integrante desde a primeira formação do lendário grupo de choro Época de Ouro, considerado o maior grupo de choro da história. De todas, as virtudes do pai, o menino fixou-se nesta.

Notando o interesse do garoto pela música, seu Benedito o chamou para uma conversa sobre seu futuro. Paulo, ainda adolescente, tem essa conversa até hoje fresca em sua memória e resolveu imortalizar os conselhos do pai no samba intitulado 14 anos. Tinha que ser “doutor”, mas para o nosso bem não foi.

Por obra do destino, Paulo cruzou com Hermínio Bello de Carvalho, que o levou a Cartola que despertou ainda mais em Paulo a veia artística. Paulo não mais! Agora, Paulinho, um nome bom para ser sambista.

Dali pra frente vieram tantas e tantas obras inesquecíveis: “Coisas do mundo, minha nega”, “Sinal fechado”, “Para um amor no Recife”, “Dança da Solidão”, “Timoneiro”, entre tantas. Todas com sua característica: bom gosto, discrição e beleza. Versou sobre o mar, o tempo, a vida e o carnaval.

Guardo com Paulinho dois momentos. No carnaval de 1998, ainda criança, assistia os desfiles das escolas de samba pela televisão. Era um domingo e a Portela a última a desfilar. Paulinho estava retornando à escola depois de anos afastado por desencontros com a direção da agremiação. 

Quando empunhou o microfone para cantar “Foi um rio que passou em minha vida”, hino maior em homenagem a sua Portela,  uma grande comoção tomou conta da avenida. Era como se algo sobrenatural estivesse acontecendo. Aqueles 5 minutos de Paulinho cantando valeram mais que todo carnaval para mim.

Em 2015, já adulto, estava cobrindo o carnaval do Rio de Janeiro, quando da cabine onde estava avistei Paulinho parado à beira da pista da Sapucaí esperando sua Portela entrar. Nunca o tinha visto tão próximo. Sai correndo da cabine com o celular à mão para tentar registrar aquele momento. 

Quando cheguei ao seu lado, um diretor da Portela o puxou pelo braço para que se dirigisse ao seu local de desfile. Tomado pela emoção, puxei Paulinho pelo outro braço. Foi quando ele se virou e me olhou com ternura. Solicitei a ele uma foto e ele se dirigiu ao dirigente da escola para dizer que primeiro iria me atender. Fiz a foto e o agradeci pela obra e,  principalmente, e pela cortesia. Paulinho sorriu e me disse: “eu quem agradeço o carinho”.

Esse é Paulinho da Viola

Ouça o Ponteio sobre Paulinho da Viola


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