Supersônicas

“Faces” revela o piano denso e autoral de Heloísa Fernandes

por Tárik de Souza

quarta, 31 de janeiro de 2018

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Paulista, de Presidente Prudente, formada em regência pelo Centro de Estudos Tom Jobim, aluna de Gilberto Tinetti e Paulo Gori, a pianista Heloísa Fernandes foi finalista do gabaritado Prêmio Visa de Música Brasileira, em 2001. Realizou parcerias com Naná Vasconcelos, Zeca Assumpção e Gil Jardim. Com discos solo, “Fruto” e “Candeias”, ela abriu espaço no mercado exterior, a partir de 2004.

Naná Vasconcelos, Gil Jardim and Heloísa Fernandes | Fotografia de Roberta Dabi Dabi


Em abril de 2014, numa turnê pelos Estados Unidos, na sala de Concertos da PianoForte Foundation encantou-se por um exemplar da marca Fazioli. “O som daquele piano era tão lindo que fiquei arrepiada quando toquei os primeiros acordes”, relembrou ao historiador Carlos Calado, autor do texto de apresentação. Thomas Zoells, promotor de concertos e dono da sala, que também dispõe de um estúdio, a convidou para voltar no dia seguinte e gravar um disco. “Ninguém jamais havia conduzido nosso Fazioli a sons tão incríveis, nem havíamos tido em nosso programa uma sonoridade tão poética e afetiva”, exultou ele. Heloísa preferiu adiar o compromisso para compor material inédito, mas meses depois foi hospitalizada com uma infecção generalizada que quase a matou.

O denso solo “Faces” (Borandá) acabou sendo registrado em 2016, com André Magalhães, o mesmo produtor dos discos anteriores da pianista. Das faixas e seus títulos transpiram a intensa experiência por que passou a solista. “Eu estava com a sensibilidade à flor da pele. Percebi que vivi um processo de transformação. Minha vida estava sendo transformada em música”, diagnostica.

Em “Mergulho”, iniciada por sons graves, percutidos diretamente nas cordas do instrumento, ela utiliza vocalizes lancinantes, que emergem das profundezas. “As Três Graças”, que parecem simbolizar a redenção alcançada pela pianista em relação à doença, subdividem-se em deusas da mitologia grega ligadas ao feminino, “Aglaia, a claridade”, “Thalia, a que faz brotar flores” e “Euphrosyne, o sentido da alegria”. O tema folclórico “Caicó”, recolhido e adaptado por Villa Lobos e posteriormente Teca Calazans e Milton Nascimento, une-se a “Colheita”. E um delta de sentimentos infiltra-se na suíte final, “Rios”, balizada por “Reflexos”, “Correntes” e “Abraços”. 


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