Entrevista

Entrevista Exclusiva: Roberta Sá grava "SambaSá" no Circo Voador e conversa sobre novo projeto

por Mila Ramos e Caio Andrade

quinta, 22 de setembro de 2022

Compartilhar:

Roberta Sá é considerada um dos talentos mais relevantes da atualidade para a música brasileira. Natural de Natal (RN), com apenas 9 anos se mudou para o Rio, abandonou o sotaque e foi na Lapa que encontrou sua alma carioca. Quem a vê brilhando nos palcos nem imagina que ela quase seguiu profissão no Jornalismo. De férias na faculdade, aproveitou o tempo livre para soltar a voz na segunda edição do Fama, reality musical da Globo, em 2002.

A potiguar viu tudo mudar quando Gilberto Braga a convidou para fazer a regravação da música "A Vizinha do Lado", de Dorival Caymmi, para ser tema de Juliana Paes em Celebridade. Estreou o primeiro disco já com música na novela, conquistando grande visibilidade. Desde que lançou "Braseiro", em 2005, Roberta Sá trilhou uma carreira de crescimento exponencial em termos de sucesso e aclamação. Transitando entre a bossa nova, o samba e a MPB.

Roberta Sá entrou em estúdio para gravar o EP "Sambasá", que lança no final do ano, com duas músicas já circulando nos streamings: Luz da Minha Vida e Nossos Planos.


Sábado, 24 de setembro, a cantora está de volta ao palco do Circo Voador pra apresentar seu novo show Sambasá. Cercada de convidados especiais – como a grande Áurea Martins – apresenta uma bonita homenagem às mulheres do samba e ao ritmo que mais representa o Brasil. Pra eternizar esse momento, a apresentação será filmada pra se tornar o novo projeto audiovisual da artista.

SERVIÇO
ROBERTA SÁ | Gravação Sambasá
Part.: Áurea Martins
Data: Sábado, 24 de setembro de 2022
ABERTURA DOS PORTÕES: 22h
Garanta já o seu ingresso (clique aqui)


Nessa entrevista exclusiva para o IMMuB, ela conta um pouco sobre o novo projeto, referências musicais, escolha de repertório e seu próximo show no Circo Voador. Confira abaixo:

IMMuB: No dia 24 de setembro, o público do Circo Voador vai participar da gravação do seu mais novo álbum, ‘Sambasá’. Como é a sensação de estar retornando gradativamente aos palcos com lançamentos de shows e álbuns?

Roberta Sá: É mágico. Esse momento criativo é pulsação de vida!


IMMuB: Existe algum samba específico que represente a essência do ‘Sambasá’? Por quê?

Roberta Sá: A música que abre o show, “A Roda”, de Wanderley Monteiro e Deco Romani, traduz exatamente a intenção do projeto. É uma canção que carrega essa emoção de quem é apaixonado pelo samba. Ela estará também no EP que vai ser lançado em breve. 


IMMuB: Fazendo uma retrospectiva de todos seus álbuns já lançados, existe algum trabalho anterior que tenha influenciado mais diretamente o ‘Sambasá’? 

Roberta Sá: Eu abro meu primeiro disco, “Braseiro”, cantando “Eu Sambo Mesmo”. E lembro bem que essa foi uma decisão consciente. Quero chegar dizendo essas palavras. De lá pra cá sempre gravei sambas e sempre alimentei o sonho de gravar um disco dedicado ao gênero. E no pós pandemia eu pensei que era exatamente isso que eu queria fazer. Resolvi fazer!


IMMuB: Você comentou sobre como gostaria de recriar um ambiente de rodas de samba nesse novo álbum. Paulo César Pinheiro, um dos grandes compositores já gravados por você, cita em uma canção: “Eu tenho saudade dos sambas de antigamente”. É um pouco nessa pegada que surge ‘Sambasá’? 

Roberta Sá: O Paulo César é uma grande referência. Um dos maiores letristas do Brasil. E eu entendo essa saudade. Mas o meu sentimento aqui é de justamente olhar pro futuro. Quero gravar os compositores de agora. Mas como diria o Paulinho da Viola:“quando penso no futuro não esqueço o meu passado.” A pegada é essa!


IMMuB: Você comenta que Beth Carvalho é uma referência para sua carreira. Você também se sente como uma referência mais contemporânea para as mulheres sambistas que surgem, ou não tem essa pretensão?

Roberta Sá: Não tenho de jeito nenhum essa pretensão. Mas também não nego a responsabilidade porque sei que meu trabalho tem algum alcance. O que a Beth fez pra cultura do Brasil é imensurável. Se eu chegar no dedinho do pé já é muito!


IMMuB: Muitos podem não saber, mas você é de Natal - RN, apesar desse jeitão carioca. Existe alguma marca da sua terra natal que te acompanha até os dias de hoje?

Roberta Sá: Acho que a maneira de me relacionar com o mundo e com as pessoas ainda é muito nordestina. 


IMMuB: O Circo Voador é uma casa de shows bastante popular e de artistas heterogêneos. Fazer show lá é estreitar as raízes populares do samba com o povo? Como você enxerga a relação de uma apresentação nesse palco?

Roberta Sá: O Circo é um lugar muito democrático. Então acho que fazer show lá leva um público antenado, curioso e amante da música.

 

IMMuB: Você anunciou recentemente que o nome da sua filha vai ser Lina. Qual legado você pretende deixar para ela? O que você sente que a sua geração está construindo para ela?

Roberta Sá: Eu só quero que ela nasça num lugar de maior igualdade, equidade, justiça, menos machista, misógino e racista. Numa sociedade que ao menos tente fazer reparações das opressões que tantas minorias vivem. 


IMMuB: Música tem mensagem? Que mensagem você pretende passar com as canções que grava?

Roberta Sá: Claro que tem! Ainda mais canção que tem letra. A canção educa muito. As mensagens estão nas letras todas que gravei. Tá tudo lá.


IMMuB: Entre sambas e bossas, você destacou a importância também do pagode dos anos 1990 na sua formação. Você se considera sambista ou pagodeira? É possível definir o estilo de Roberta Sá hoje?

Roberta Sá: Eu me considero amante do samba. Eu não tenho cara de pau de olhar pra tia Surica e falar que eu sou sambista. Se o samba me quiser, ele me tem. E ele tem me recebido lindamente! Sigo assim. 


IMMuB: No seu repertório constam compositores já renomados e/ou falecidos como Dona Ivone Lara, Chico Buarque e Sidney Miller e também nomes da nova geração como Rodrigo Maranhão e Lula Queiroga, além de canções da sua própria autoria. Como é feita a escolha desse repertório?

Roberta Sá: É bem caótica. Experimento um monte de coisa. Faço mapas. Dessa vez experimentei em vários shows, e contei com a ajuda de Pedro Seiler, Gabriel de Aquino e Alaan Monteiro. Quebramos cabeças e chegamos nesse resultado!


IMMuB: Você já possui um álbum ao vivo no Circo Voador, “Delírio no Circo”. Qual sua expectativa para esse novo álbum a ser gravado lá?

Roberta Sá: Circo é sempre casa, catarse. Um lugar histórico pro Rio, de resistência, parceria e afeto. Foi lá que fiz o último show antes da pandemia. E acho que vai ser muito bonito essa retomada num novo projeto começar por lá. Vai ser histórico pra mim.


IMMuB: O pagode é um ritmo que historicamente traz pouca representatividade para as mulheres, mas o mercado vem demonstrando que o interesse pelo ritmo é crescente e, aparentemente, virou uma aposta real das grandes gravadoras desde o ano passado. As mulheres estão quebrando a barreira do preconceito e se destacando no pagode e estão representando o nicho ainda pouco explorado. O que te motivou a gravar pagode? 

Roberta Sá: Eu não vejo diferença entre samba e pagode. Acho que tem, sim, um jeito de tocar, umas convenções, mas é uma vertente do samba, talvez? Eu amo ver as mulheres quebrando essas barreiras. E desejo vê-las cheias de hits, lotando casas de show!  


IMMuB: Além de dar continuidade à participação das divas do passado, quais vem sendo os maiores desafios de abraçar o pagode para crescer a presença neste cenário musical?

Roberta Sá: Em primeiro lugar, eu acho que esse lugar de diva está no passado. Não curto esse título. Pode até ser um bom marketing talvez, mas me desumaniza e eu nunca gostei de pedestal. Cada vez mais isso tá claro pra mim. O pagode tá muito bem, na minha opinião. Enorme, com nomes bombando de show Brasil afora. Falta pra mim a mulherada jovem ganhar esse espaço que é tão masculino! Isso eu vou gostar de ver. 


IMMuB: Nesta fase maternal da sua vida, existe alguma memória musical que mais tenha marcado a sua infância e juventude, e que agora gostaria de transferir para a Lina? Alguma referência musical que espera transferir?

Roberta Sá: Quero que ela tenha sua própria experiência e que divida com a gente. Mas, claro que vai ser um prazer mostrar Clara Nunes pela primeira vez! Imagina?


Nós da equipe IMMuB agradecemos o carinho da assessoria do Circo Voador e da Roberta Sá pela entrevista gentilmente cedida.


Fotos: Pedro Bucher/imagens cedidas pela assessoria/Divulgação


Mila Ramos é fascinada por música e foi em seu trabalho com bandas cover em 2012 que encontrou uma nova paixão: o Music Business. Especializou-se em Marketing e Design Digital pela ESPM-RJ e somou seus conhecimentos ao mundo musical como Produtora Artística. Em 2017, entrou para o Instituto Memória Musical Brasileira (IMMuB). Lá chegou ao cargo de Coordenadora de Comunicação e, sob sua gestão, conquistaram o Prêmio Profissionais da Música 2019, e o Programa Aprendiz esteve entre os finalistas de 2021.

Caio Andrade é graduando de História da Arte na Escola de Belas Artes (EBA/UFRJ) e Assistente de Pesquisa e Comunicação no Instituto Memória Musical Brasileira (IMMuB) desde 2020Grande apaixonado por samba, pesquisa sobre o gênero há mais de uma década, além de tocar em rodas e serestas no Rio de Janeiro.


Comentários

Divulgue seu lançamento