Escambo Sonoro

Continentrio - Continentrio (2003)

sexta, 20 de maio de 2022

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O que pode sair de um play entre irmãos? Um jogo comprometido com a troca e, principalmente, com a música. Filhos do grande instrumentista Mauro Continentino - criador e administrador da casa de jazz Pianíssimo Studio Bar em Belo Horizonte (MG) no final dos anos 80 - Alberto (baixos), Kiko (teclados) e Jorge (saxofones) constroem uma união sonora versátil e consistente com os temperos e pratos de André Limão Queiroz. Assim é o álbum Continentrio (2003) do grupo de mesmo nome.

A vinheta Pane traz o curioso som do Didgeridoo, instrumento de sopro de origem australiana concebido pelos aborígenes da região de Kakadu na região norte do país. A faixa, T.W.B, composta por Kiko e Jorge, apresenta um staccato preciso e ponderado executado pelo saxofone, no qual toda a banda acompanha. Resgate é um baião muito bem disfarçado de jazz. Daria pra imaginar Luiz Gonzaga ou Hermeto Pascoal trajados em Black Tie. Lucia é de uma delicadeza rara e merece ser ouvida com muita atenção. Fico pensando, quem poderia ser Lúcia? Irmã? Tia? Avó? Mãe!? Não sei a resposta, mas se Lúcia for elegante como a música, adoraria conhecê-la. Em Joah’s Interlude a presença de Debussy e seu fauno surgem em meio ao som contemporâneo do disco. Talvez uma pausa para recobrar os ânimos?

Zulu tem um riff pulsante em um compasso 6/8 propício ao balanço e à diversão. O solo elaborado por Alberto é de uma sagacidade incomparável. Aos poucos, o discurso toma forma e a previsão é certeira: elegância e sofisticação. Considero Falafael a música mais interessante do disco. Um ritmo meio quebrado, mas sem forçar a barra aliado a meios-tons, gerando uma atmosfera meio Oriente Médio. A escolha do saxofone soprano não foi por acaso, o som desse instrumento agrega muito ao ambiente da faixa. Contra Ataque vem na sequência. Mais um ritmo pulsante junto a um riff matador. Esse é daqueles riffs que quando aprendemos a vontade é tocá-lo ad infinitum. Composta por Kiko, Tem Japa no Forró parece que foi criada para uma Festa dos Deuses na qual Hermeto Pascoal é o grande homenageado. A citação de Asa Branca pode confirmar minha hipótese.

Xeque Mate (parte 1) e Xeque Mate (parte 2) encerram o disco em grande estilo. A primeira, um pouco mais tímida - mas não menos animada do que a segunda - conta com um solo de baixo em um pedal de envelope filter, efeito bem característico dos anos 70 que aparece pela primeira vez no disco. A segunda parte de Xeque Mate é a sobremesa de todo o disco. Bananeira de João Donato é comentada rapidamente por Kiko enquanto o resto da banda quebra tudo! Ao fim e ao cabo desse manjar sonoro, o Didgeridoo é convocado novamente e a união sonora do clã Continentino é selada por este instrumento ancestral.


Ficha técnica:
Alberto Continentino - Baixos e Guitarras
Jorge Continentino - Saxofones e Didgeridoo
Kiko Continentino - Piano e Teclados
André “Limão” Queiroz - Bateria



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