Tema do Mês

Chiquinha Gonzaga e os Mestres do Piano Brasileiro

por Caio Andrade

quinta, 06 de outubro de 2022

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Outubro é mês de abrir alas para uma das figuras femininas mais importantes da história da música brasileira, a pianista Chiquinha Gonzaga, e seu aniversário de 175 anos! Com ela, o IMMuB irá recordar outros mestres das teclas no país como os “pianeiros” Nelson Freire, Ernesto Nazareth, Tia Amélia e Carolina Cardoso de Menezes.

Viva Chiquinha Gonzaga!

Nascida Francisca Edwiges Neves Gonzaga em 17 de outubro de 1847, Chiquinha foi sinônimo de transgressão em sua época. Foi não apenas uma grande musicista e maestrina, como também lutou pelas causas sociais do seu tempo, como a abolição da escravatura. Independente e com mentalidade muito à frente, venceu os preconceitos de raça e gênero daquele Brasil do fim do século XIX, se tornando a primeira mulher maestrina no país.

Teve diversos problemas no primeiro casamento com Jacinto Ribeiro do Amaral, arranjado pelo pai. O marido não gostava nada de vê-la se dedicando ao piano e, pouco depois, insatisfeita, buscou o divórcio dessa união. Ele chegou a mover processo contra Chiquinha por abandono do lar, ficando com a guarda do filho. Nisso, ela não tinha nem 18 anos.

Emergiu no cenário musical carioca no fim dos anos 1870, em um período em que músicos e mulheres eram vistos com péssimos olhos, os ditos “vagabundos”, “vagais”, “vadios”. Com “Atraente”, um de seus grandes sucessos, fez sua estreia como compositora. Entretanto, esse “sucesso foi mais um fardo para sua reputação” do que qualquer reconhecimento.

Em 1885, ao estrear no teatro com a opereta “A Corte na Roça”, surgiu a seguinte questão: como denominar uma mulher que regia a orquestra? Foi algo inédito já que, até então, só existia palavra no masculino para essa função. Qual seria o feminino de maestro? Pela primeira vez, usariam o termo maestrina.

Contudo, de acordo com o próprio site dela, alguns estudos apontam que hoje esse termo surgiu como uma forma pejorativa de tratar uma mulher ocupando esse cargo. Da mesma forma, hoje também se tenta desassociar a imagem da maestrina a uma mulher branca. Tanto o cargo que ela “criou” quanto o embranquecimento da figura dela mostram problemas enraizados na sociedade brasileira até os dias atuais, mesmo com quase um século de falecimento da artista.

Já conhecida, se destacou também com a criação da marcha carnavalesca na virada do século, lançando “Ó Abre Alas”, canção relembrada até hoje. Dentre outras canções também famosas dela, pode-se citar “Gaúcho” (corta-jaca) e “Lua Branca”.  

Depois de diversas apresentações no país e também no exterior, Chiquinha foi a primeira artista a se preocupar com a regulamentação de seu trabalho. Em 1917, ela fundou a primeira instituição do país que visava proteger e arrecadar os direitos autorais da obra dos artistas. Surge, assim, a Sociedade Brasileira de Autores Teatrais (SBAT). Até nisso ela era visionária.

Com uma vida dedicada à música, Chiquinha faleceu em 28 de fevereiro de 1935, antevéspera do carnaval daquele ano, deixando em torno de 300 composições. Quase um século depois, em 2015, foi descoberto um fonograma com a provável voz e registro dela tocando!

Dentre os principais intérpretes da obra da maestrina, temos: Clara Sverner, a primeira artista a explorar e lançar Chiquinha, dedicando três álbuns a ela; Antônio Adolfo e Maria Teresa Madeira, ambos com dois álbuns cada.

Chiquinha é uma artista atemporal que merece todo nosso reconhecimento. Por isso, nos 175 de Chiquinha Gonzaga, como diria o próprio álbum de Antônio Adolfo, Viva Chiquinha Gonzaga!



Caio Andrade é graduando de História da Arte na Escola de Belas Artes (EBA/UFRJ) e Assistente de Pesquisa e Comunicação no Instituto Memória Musical Brasileira (IMMuB) desde 2020. Grande apaixonado por samba, pesquisa sobre o gênero há mais de uma década, além de tocar em rodas e serestas no Rio de Janeiro.

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