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Candeia, resistência artística e cultural

domingo, 13 de janeiro de 2019

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“Hoje é manhã de carnaval/Há esplendor/As escolas vão desfilar garbosamente/E aquela gente de cor/Com a imponência de um rei/Vai pisar na passarela”. (Dia de graça)

Antonio Candeia Filho é samba e resistência. Um dos maiores nomes do gênero, nasceu em 1935 (17 de agosto) e morreu em 1978 (dia 16 de novembro). Viveu pouco, apenas 43 anos, mas criou intensamente e deixou uma obra e uma história de vida que só enchem de orgulho seus pares e seguidores. Mito da resistência cultural brasileira, começou a fazer músicas ainda na adolescência, por inspiração caseira. Seu pai tocava flauta e carregava o pequeno Antonio para as rodas de samba e de choro que ferviam em Oswaldo Cruz e Madureira. Começou a frequentar a Portela, virou compositor da escola e, em 1953, antes de completar 18 anos, viu sua gloriosa agremiação de Madureira desfilar com um samba-enredo de sua autoria, As seis cartas magnas. 

O Candeia participativo e contestador desponta na segunda metade dos anos 70 – infelizmente, já perto de morrer – quando, graças à abertura política, os movimentos populares retomaram sua organização, entre esses movimentos a luta dos militantes pelos direitos dos negros. É dessa época a criação do Centro de Estudos Afro-Asiáticos e do Instituto Popular de Cultura Negra, órgãos importantes para a retomada dos movimentos negros no Rio de Janeiro. Muito ligado aos dirigentes e militantes do Centro e do Instituto, Candeia funda o Grêmio Recreativo de Arte Negra e Escola de Samba Quilombo, com duas premissas básicas: a “valorização das culturas negras, em tudo o que se refere às suas aspirações”, e também a “valorização da manifestação da arte popular, há muito banida das escolas de samba”.

Antonio Candeia Filho ficou um pouco esquecido, para voltar a brilhar em 1995, quando o parceiro Martinho da Vila gravou o disco Tá delícia, tá gostoso, no qual incluiu um pot-pourri chamado Em memória de Candeia, que tinha as faixas Dia de graça, Filosofia do samba, De qualquer maneira, Peixeiro grã-fino e Não tem vencedor. No ano seguinte foi a vez de Zeca Pagodinho incluir no belo CD Deixa clarear a regravação, juntamente com a Velha Guarda da Portela, de um samba que tinha a cara e a marca de Candeia (apesar de não ser de sua autoria, e sim de Alcides Malandro Histórico), por ter sido por ele gravado com enorme maestria, Vivo isolado do mundo. Esse samba foi registrado por Candeia no melhor disco de sua carreira, Axé, de 1978.

Enquanto houver samba haverá Candeia. A máxima está traduzida na canção-homenagem composta por Luiz Carlos da Vila, lembrando e perpetuando a memória do mestre e amigo: “A chama não se apagou/Nem se apagará/És luz de eterno fulgor, Candeia/O tempo que o samba viver/O sonho não vai acabar/E ninguém irá esquecer Candeia. Em 1997 foram relançados em CD três discos de Candeia: Samba da antiga, de 1970, Filosofia do samba, lançado originalmente em 1971 e Samba de roda, de 1974.

Foi um homem valente, que enfrentou algumas adversidades na vida com determinação e força. Viveu os seus últimos anos (mais de 10) preso a uma cadeira de rodas, em decorrência de um tiro na coluna vertebral – depois de discussão no trânsito, no final da década de sessenta. Policial Civil, se aposentou por invalidez após o acidente e pôde, então, se dedicar mais à música, aos movimentos musicais e às causas sociais de seu povo.


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