Beth Carvalho cantou de pé, sentada e até deitada; mas cantou
A impressão que se tinha ouvindo Beth Carvalho cantar é a de que sempre se ouviu essa voz. Parece e é familiar – sempre será –, passando por momentos de nossas vidas que vêm desde que o seu timbre afinado e gostoso remou contra a maré tropicalista, em 1968, com “Andanças”, de Danilo Caymmi, Paulinho Tapajós e Edmundo Souto, naquele Festival da Canção em que tirou o terceiro lugar.
Beth nem tinha LP gravado, só o fez no ano seguinte. Ainda bailava entre a bossa nova e o samba, desde o compacto simples inicial de 1965, com a delicada “Por quem morrer de amor”, de Roberto Menescal e Ronaldo Boscoli. Mas logo no comecinho da década de 1970 arrepiava corações e cuícas com a gravação de “Rio Grande do Sul na Festa do Preto Forro”, samba-enredo da Unidos do São Carlos. Para a alegria de muitos, o samba venceu.
Ao abraçar o samba, Beth acertou em cheio na escolha, para alegria de todos nós que gostamos muito do mais popular ritmo brasileiro e que adoramos ouvi-la cantar. Elizabeth Santos Leal de Carvalho, a grande intérprete que o Brasil perdeu no último dia 30 de abril de 2019, nasceu no dia 5 de maio de 1946. Era carioca da gema, do caldeirão situado entre a Saúde e a Gamboa – onde o batuque também ganhou vida e garante a sobrevida do Largo da Prainha.
Trabalhou até os últimos dias. Cantou de pé, sentada e até deitada; mas cantou. Compositores jovens e cascudos perderam sua madrinha. O samba perdeu sua grande cantora. O Brasil perdeu uma mulher de muita luz e garra, combativa e guerreira.
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