Música

Artur Nabeth lança o álbum 'Mitos', seu primeiro trabalho solo

domingo, 20 de dezembro de 2020

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Após quinze anos cantando em bandas, o cantor e compositor Artur Nabeth tinha deixado a carreira artística de lado para se dedicar a outros projetos profissionais. Já estava parado havia seis anos quando soube que ia ser pai, em 2018. Pensou: “Será que meu filho nunca vai conhecer esse meu lado?”. Decidiu, então, fazer um álbum solo. Quando começou a tirar algumas melodias da gaveta para compor o repertório, Jair Bolsonaro foi eleito, deixando um clima de desalento no ar. Foi imbuído desses sentimentos tão diferentes que ele criou “Mitos”, um disco que fala basicamente de descrença e esperança, fim e recomeço.

“Faltando duas semanas para o meu filho nascer, aconteceu aquela noite fatídica de 28 de outubro de 2018, em que o Brasil decidiu se suicidar. Foi um negócio que me deixou muito impactado. Eu não acreditava que o país fosse capaz de eleger esse monstro. Até a última hora, achei que íamos virar. Quando saiu o resultado, aquilo me deixou completamente atordoado. Naquela noite, sentei e falei: ‘Tenho que fazer alguma coisa. Não posso mais ficar parado.’ Quem acompanha política de perto, como eu, já sabia que os artistas iam ser perseguidos a partir daquele dia”, explica.

Foto: Marcos Hermes

Começou, então, a escrever as músicas, pegando algumas ideias inacabadas que tinha guardadas e criando novas canções. “Foi um negócio meio sessão espírita. Duas semanas depois do nascimento do meu filho, já tinha sete músicas. Marquei com o Marcelo Rezende, que é o produtor do disco e um amigo antigo — atualmente, guitarrista e diretor musical da banda de Tiago Abravanel —, mostrei para ele as melodias e fomos criando os arranjos. Nos dois meses seguintes, escrevi o restante das músicas e fechamos o repertório”, descreve Nabeth.

Totalmente independente, “Mitos” traz dez faixas compostas por Nabeth, quatro delas ao lado de Manfredo Jr., ex-colega de banda do artista. “Todas as letras estão permeadas por um sentimento de desesperança, de frustração. Mas, ao mesmo tempo, de uma certa resignação diante disso, no sentido de ‘está horrível, a gente tombou, em vários sentidos, mas vamos seguir, vamos em frente, porque é isso que tem que ser feito’. O disco inteiro tem essa vibe”, analisa ele. “Mitos”, a faixa-título — que ganhou um clipe de animação em pixel art que promete polêmica com as hordas bolsonaristas —, faz uma óbvia referência ao presidente. Mas também fala sobre mitos sociais que existem no Brasil, como os diversos preconceitos que persistem no país. E na própria vida artística em si, claro, na qual muitas vezes um trabalho só é legitimado se obtém retorno financeiro. “Mas não é um álbum de letras panfletárias, explícitas em relação à política. Os recados estão dados de forma poética”, frisa.


Gravado em praticamente três dias, o trabalho teve bastante espaço para a improvisação dos músicos. O resultado é uma sonoridade que caminha entre o indie pop e o indie rock, com elementos de jazz, soul e música brasileira em geral. Entre as influências, Los Hermanos e Luiz Melodia. “Ele é um artista que é emblemático e representa muita coisa para mim, um cara que fazia desde cedo essa mistura do rock com o pop, pitadas de soul, funk, música latina e essa coisa da brasilidade”, descreve. “Quando fui arranjar o disco com o Marcelo, deixei claro que, por mais que as canções tivessem um acento pop, às vezes rock, eu queria fazer um disco suingado. Sempre fui muito fã de Stevie Wonder, Tim Maia, Ed Motta, Cassiano, Jorge Ben. Falei: ‘Quero que essa onda esteja presente.’ Isso influenciou a escolha dos músicos também: são pessoas que tocam jazz e erudito, mas que trabalham com artistas pop, do samba ou da MPB.”

Para se juntarem a Marcelo Rezende, que, além de ser o produtor e arranjador do álbum, tocou guitarra, violão e alguns dos teclados e percussões, Nabeth convidou Leandro Vasques para o baixo, Pedro Fonseca para os diferentes tipos de teclado e piano, Lourenço Vasconcelos para bateria e percussão, e o trio de metais composto por Vinicius Lugon, Denize Rodrigues (sax) e Vitor Tosta (trombone). Seu antigo parceiro Manfredo Jr. toca guitarra em “Antes Que o Tempo Acabe” e “Castelo de Cartas”.

Foto: Divulgação 

Em maio, foi lançada uma prévia do disco: o clipe de “Dois Náufragos”, feito com imagens de bastidores das gravações do álbum. A música tem um tema um tanto inusitado: um episódio de canibalismo após um naufrágio, relatado em um trecho do livro “Cem Anos de Solidão”, de Gabriel García Márquez — que é recitado por Artur Nabeth na gravação. Curiosamente, a canção foi parar em uma playlist de canções para procissão de Corpus Christi e teve um salto na audiência. O clima celestial do arranjo, o vocal doce e versos como “Onde quer que eu vá/ lembro de você/ do gosto granuloso e doce da tua santa carne” levam alguns a pensarem que se trata de um louvor religioso, uma alusão à comunhão católica. “Não imaginava que iria atingir esse público, mas sejam bem-vindos”, diverte-se Nabeth.

Ouça o álbum agora (clique aqui!) 

Encaminhado por: Artur Nabeth 

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