Aracy de Almeida, rainha dos parangolés, homenageada em show e disco
por Tárik de Souza
Para a geração que foi jovem 30 anos atrás, ela era uma jurada mal humorada do programa Silvio Santos, ranheta com os calouros e cheia de gírias antepassadas. Este foi o último emprego de uma das maiores estilistas vocais do país, Aracy Teles de Almeida (1914-1988), a favorita de Noel Rosa (que também gostava de Marilia Batista).
Aracy de Almeida tingiu o samba, a prontidão e outras bossas com sua emissão bluesy, em contraste com a limpidez operística de Dalva de Oliveira e a brejeirice espevitada de Carmen Miranda, só para citar duas rivais ilustres. A irreverente Dama da Central, Arquiduquesa do Encantado, a Araca, em seu centenário de nascimento, em 2014, ganhou o musical “Aracy de Almeida – a rainha dos parangolés”, escrito por seu amigo, o produtor e poeta Hermínio Bello de Carvalho, sob encomenda do SESC Belenzinho, de São Paulo.
Estrelado pelo cantor Marcos Sacramento e o violonista Luiz Flavio Alcofra, após temporadas no Rio, Niterói e Curitiba, produção do Olhar Brasileiro, de Luiz Boal, o show agora virou disco pela Acari Records. São 10 faixas reunindo 18 músicas, gravadas no estúdio Raphael Rabello, na Casa do Choro, no centro do Rio, onde será o lançamento, dia 13 de dezembro. (compre ingressos)
“Na década de 90, comecei a gravar Noel nos meus discos de samba e percebi que Aracy sempre foi vanguarda. Andava com os poetas, bebia com os boêmios e cantava com uma liberdade acintosa na época: iconoclasta, outsider, debochada e rainha sim, mas dos parangolés”, retrata Sacramento.
No roteiro, composições lendárias de Noel como “O orvalho vem caindo” (com Kid Pepe), “Filosofia” (André Filho), “Onde está a honestidade?” “Coisas nossas”. E mais, “Camisa amarela” (Ary Barroso), “Quando tu passas por mim” (Antonio Maria/ Vinicius de Moraes), “Ganha-se pouco, mas é divertido” (Wilson Batista/ Ciro de Souza). E as que não entraram no disco (mas estarão no show), “Nasci para bailar” (Fernando Lobo/ Joel de Almeida), “Caco velho” (Ary Barroso), “Se eu morresse amanhã” (Antonio Maria) e “Tudo foi surpresa” (Valzinho/ Peterpan).
“Era uma dívida que contraí comigo mesmo, a de não deixar que o tempo apagasse a importância de Aracy no panorama cultural do país. E não somente como excepcional intérprete, mas também como uma personalidade que poderia ser igualada a seus amigos, Di Cavalcanti, Antonio Maria, Noel Rosa, Custódio Mesquita e Valzinho, e tantos outros que moldaram a nossa cultura com os seus contornos mais vanguardistas. No caso da Aracy, com aquelas cordas vocais encorpadas num timbre raríssimo, que logo chamou a atenção de Mario de Andrade”, documenta Hermínio.
Uma entrevista realizada com a cantora no programa dele, em 1987, na antiga TVE, terá trechos exibidos no espetáculo.
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