Ao Catedrático, o samba, viva Germano Mathias
“Acorda amor….
Acorda amor….
Acorda amor….”
trecho do samba “Lua Nova" composta por Caio Silveira Ramos e interpretada por Germano Mathias.
Nascido e criado no Bairro do Pari, na Rua Santa Rita, filho de Zulmira e Júlio Matias, ambos de origem portuguesa, o pequeno Germano se encantou com os fados e viras que eram cantados em sua infância.
Este apreço pela música, lhe fez despertar o interesse por outros ritmos, um deles mais ligado a classe mais pobre da sociedade paulistana, o samba. Logo aos 14 anos, ele se liga à Escola de Samba Rosas Negras e integra a ala de frigideiras, este instrumento hoje esquecido por muitos, foi um dos divisores de água para sua trajetória na música.
A habilidade e destreza adquirida por ele neste instrumento, fez com que se tornasse uma marca registrada ao vê-lo executar com precisão suas batidas na lata de graxa. Depois de alguns anos desfilando por esta agremiação, ele migrou para esta que é considerada a mãe de todos os pavilhões do Carnaval de São Paulo: a Lavapés.
Ao lado da turma da famosa Madrinha Eunice, o jovem Germano se diverte e começa mostrar os seus trabalhos e logo esta habilidade de caitituar suas obras ganha a atenção de um amigo, que no futuro se torna um dos grandes baluartes do samba paulista e ele lhe deixa um grande conselho:
“Germano, por que você não mostra seu trabalho para o mundo?
O povo precisa te ouvir”
A fala é de Toniquinho Batuqueiro!
E estas simples palavras, alimentam a mente deste jovem de imaginação e sonhos, afinal, por que não?
Neste período, ele começa a frequentar as rodas de samba de engraxate no centro velho de São Paulo. E aos 18 anos, o sambista vai servir o exército, na Artilharia Antiaérea em Quitaúna (Osasco - SP), imaginem quantas prosas e samba ele organizou no batalhão. O Malandro que foi ambulante, vendeu de tudo e mais um pouco, com seu jeito carismático e destreza nas palavras, acredito eu que a rua foi sua faculdade, das aulas da rua ele levou toda a sua alegria para os palcos.
Fã do sambista Gaúcho, Caco velho que faleceu em 1971, Germano se inspirou na agilidade e na habilidade dos versos lépidos que o sambista gaúcho cantarolava e colocou a malandragem das ruas em suas composições, um prato feito que caiu no gosto do povo e que logo explodiu.
Germano, igualmente a Adoniran Barbosa eram o símbolo de uma cidade que vivia em processo de evolução, o crescimento de São Paulo engolia as vielas, os cortiços em prol de uma cidade que tinha o desejo de ser uma das maiores capitais do país. A poesia destes sambistas era o retrato desta população de imigrantes vinda de diversas localidades do país para a capital, ali eles retratavam o cotidiano desta população e suas desventuras amorosas.
Em uma época no qual a música em si, não tinha toda a badalação midiática que temos hoje, este samba valente era o recorte mais puro de um povo que estava buscando se encontrar dentro deste cenário musical. Logo ele foi reconhecido como um dos grandes nomes deste samba malandreado que no passado e no futuro consagrou nomes como: Bezerra da Silva,Ciro Monteiro,Jorge Costa, Moreira da Silva,Padeirinho, Zé Keti e tantos outros…
Na carreira, Germano ganhou diversos prêmios e colocou o formato samba-choro em destaque, tanto destaque que ele ficou frustrado quando em 1960 lançaram o álbum “Antologia do samba choro” no qual fizeram uma releitura sobre seu trabalho e não o convidaram para regravação, neste período o artista estava enfrentando o ostracismo e apesar do sucesso do álbum, levou um bom tempo para que seu nome voltasse as glórias do passado.
O Catedrático se afastou do samba e foi trabalhar de Oficial de justiça!
Apesar disso, ele nunca abandonou a música, atuou em filmes e novelas e nos idos dos anos 80 e 90 ele volta cantarolando por aí, em seu berço, nas ruas, nos palcos e últimos anos divide o palco com amigos como Osvaldinho da Cuíca e Thobias da Vai-Vai e sai por aí queimando lenha nas estradas da vida.
Porém, quis o destino, que o surdo silencia-se em uma Quarta feira de Cinzas, logo ele que é era um apaixonado pelo samba e pelo Carnaval, desencantou no dia 22 de Fevereiro de 2023 levando contigo sua caixa de fósforo e nos deixando como marca: a alegria!
Comigo não tem quebranto
Comigo não tem mau-olhado
Sou filho de pai de santo
E tenho corpo fechado…
Trecho da Canção “Filho de Pai de Santo” de Germano Mathias
De corpo fechado, mas com o peito aberto! É assim que vamos sempre recordar do Catedrático do Samba!
Obrigado Sr. Germano Mathias, uma das suas maiores alegrias com toda certeza, será o povo ouvir mais uma vez o seu sincopado samba!
Foto: Rafael Luvizetto / Coletivo Sindicato do Samba
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