Escambo Sonoro

Almir Sater – Instrumental 2 (1990)

quarta, 29 de junho de 2022

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O segundo trabalho instrumental de Almir SaterInstrumental 2 (1990) – é ainda mais surpreendente. Gravado entre 1987-88, mas lançado 2 anos depois, o violeiro mostra porquê é um dos maiores nomes da viola no Brasil. O disco conta com nove faixas de altíssimo nível e uma participação mais que especial de um dos membros do Clube da Esquina. É na última faixa do disco – Beira Mar – que Tavinho Moura empresta sua voz e técnica no violão erudito para dar vida ao folclore do vale do Jequitinhonha. Esta é a única faixa com letra de todo o álbum.

Fronteira abre o disco de forma magistral ao som de flautas que poderiam muito bem ser tocadas por Don Juan da série do escritor peruano Carlos Castaneda. Há algo mítico e espiritual no ar. Aos poucos a viola cria movimentos harmônicos sinuosos que parecem nos levar a uma espécie de ritual ancestral, no qual o peiote será o principal ingrediente. Rasta é uma das músicas mais trabalhadas no disco. Cada detalhe, tanto da ornamentação como do ritmo, parecem ter sido pensados inúmeras vezes. Além disso, a levada enérgica da música me lembrou algo do bom e velho rock n’roll, mas talvez seja apenas impressão.

Na faixa Moura temos a impressão de ouvir um fragmento – duas ou três notas – do clássico Odeon composta por Ernesto Nazareth em 1910. Sua orquestração chama atenção principalmente no uso do oboé (aquele instrumento representado pelo Pato no clássico infantil Pedro e o Lobo do compositor russo Prokofiev) que surge meio tímido em meio à massa sonora e no uso do naipe de cordas da orquestra. A versão da Mazurca de Heitor Villa-Lobos ganha sutilezas blues e cores brilhantes na viola de Almir e mostra que estudar um instrumento vai muito além do próprio instrumento, ou seja, nem só de pagode ou guarânia vivem o violeiro, mas de todo repertório disponível para sua formação.

Sugiro a faixa Marionete aos ouvidos mais exigentes e que pretendem ouvir algo diferente do que estão acostumados ao ouvir a viola. Por isso, muita atenção na faixa. Segredo – como o próprio título sugere – começa calma, serena e aos poucos algumas texturas ainda não usadas no álbum vão surgindo. O violão – parente não tão distante da viola – constrói um improviso bastante idiomático nessa faixa e que, agora sim, faz lembrar mais de perto os mestre da guitarra.






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