Almir Sater – Instrumental (1985)
O terceiro disco da carreira de Almir Sater – e o primeiro totalmente instrumental do cantor e compositor mato-grossense – é uma joia rara da música brasileira onde a “moda de viola” percorre caminhos pouco convencionais aos violeiros. Logo na primeira faixa, Corumbá é possível reconhecer algo de blues no toque das violas. A faixa Vinheta do Capeta (um título incrível, não é mesmo?) faz menção direta ao Quinteto Armorial – grupo que fez parte do movimento homônimo idealizado por Ariano Suassuna em 1970 no Recife – principalmente ao que se refere à instrumentação do arranjo. Além disso, a maneira como a música se desenvolve deixa clara a referência mencionada. Benzinho parece um pedido de casamento feito a uma princesa do século XI por um trovador medieval, uma verdadeira cantiga de galanteio onde podemos imaginar a bela moça debruçada sobre a janela do seu quarto observando o amado cantarolar. Composta por Tião Carreiro, Rio de Lágrimas ganha uma versão incrível e faz honra ao legado criado pelo músico. Viola de Buriti é o título da nona faixa e evoca o instrumento criado em 1940 pela comunidade Mumbuca, situada no Jalapão, região do estado de Tocantins. Aos mais tradicionalistas recomenda-se a faixa No quintal de casa, talvez a música com a sonoridade mais familiar aos violeiros.
São duas as faixas que merecem destaque: a primeira, Luzeiro é tema de abertura do programa Globo Rural a mais de quarenta anos e conta com timbres bastantes inusitados como a bateria eletrônica e o berimbau, onde a fusão desses instrumentos proporciona um resultado muito interessante. Outro destaque é De Minas prá Riba. Se no destaque anterior a surpresa foi o berimbau e a bateria eletrônica, nesta o som da cítara surge em um lugar pouco comum. Isso mesmo! O instrumento indiano radicado por Ravi Shankar no ocidente aparece no disco como um parente próximo da viola de 10 cordas. Os harmônicos produzidos pelos instrumentos em questão criam uma imagem cósmica, ao mesmo tempo, densa e rarefeita, convidando o ouvinte a uma escuta generosa. O disco é primoroso e merece o respeito de qualquer redneck. A instrumentação, a forma, os improvisos, tudo é feito com muito cuidado e bastante poeira no ar.
Ficha Técnica:
Editado por – Zé Luis , Robson
Engenheiro [Som] – Marcus Vinicius , Wilson Roberto
Líder [Diretor Musical] – Almir Sater
Mixado por – Almir Sater , Marcus Vinicius
Produtor [Executivo] – Marcus Vinicius
Técnico [Assistente de Estúdio] – Robson , Ronaldo
Selo e Número no catálogo - Som da Gente - SGD/ 025/85
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