A Real Grandeza de Jards Macalé
por Caio Andrade
No mês de março, o IMMuB irá celebrar os 80 anos de um dos grandes nomes da contracultura musical brasileira: Jards Anet da Silva, o Jards Macalé. Com uma carreira quase sexagenária, Macalé, Macalinha, Macalão, Macão, como preferir, possui histórias deliciosas que iremos recordar além de canções memoráveis. Portanto, sem mais delongas, let’s play that?
Jards Macalé no Festival Levada (2019)/Foto: Rogério Von Kruger
Jards veio de uma família bastante musical e teve o rádio como principal referência, a exemplo de vários artistas de sua época - a Rádio Nacional vinha trazer o melhor da nossa música para esse carioca da Tijuca. Ele conta que o jovem Jards Anet ganhou “Macalé” no nome devido a um jogador de futebol muito contestado do Botafogo à época - “passa a bola, Macalé”, diziam zombando. E o apelido pegou. Não tardou para que o nome do jogador fizesse parte do nome artístico.
O pequeno Jards cresceu, e os anos 1960 foram bastante importantes para o surgimento desse artista. Começou tocando com nomes de primeiro escalão da nossa canção como Elizeth Cardoso, Nara Leão e Maria Bethânia e teve também suas primeiras composições gravadas. O primeiro disco mesmo só viria em 1972, “Jards Macalé”, contendo sucessos como “Farinha do Desprezo”, “Vapor Barato”, “Let’s Play That” e “Hotel das Estrelas”.
Mas Jards já havia participado de trabalhos importantes nessa virada de década e início dos anos 1970, como “Legal” e “Fatal - Gal a Todo Vapor”, de Gal Costa, e “Transa”, de Caetano Veloso. Teve o “Banquete dos Mendigos”, num nítido trabalho político celebrando o 25º aniversário dos Direitos Humanos, e também se destacou com as apresentações ao lado de Moreira da Silva no Projeto Pixinguinha, época em que a perseguição por parte dos militares estava cada vez mais constante. Das aventuras com Moreira, surgiu a única parceria entre eles: “Tira os Óculos e Recolhe o Homem”, baseada em fatos reais. Leia aqui.
A carreira de Jards se consolidou tanto em canções autorais e provocativas quanto rememorando mestres do passado, que foram sua referência, como os dois álbuns em tributo a Ismael Silva (“Peçam Bis” e “Tributo a Ismael Silva”), “4 Batutas & 1 Coringa” ou “Macalé Canta Moreira”, além de diversas regravações de maneira bem original como “Mambo da Cantareira”, inspiração para o título de "Aprender a Nadar" (1974).
Se houve uma época em que o artista ganhou rótulos como de um “maldito da MPB”, foi perseguido ou incompreendido, ele próprio já afirmou que isso é coisa do passado em entrevista exclusiva ao IMMuB - a sair nos próximos dias, fiquem atentos! Basta reparar a juventude que aprecia e lota os shows deste magnífico artista num recorte mais recente, além de diversos trabalhos lançados (e que ainda estão por vir).
Jards é joia rara. Viva o professor Macalé e os seus 80 anos! Viva sua Real Grandeza!
Comentários