Vire o Vinil

A Cor do Som instrumental

sexta, 22 de maio de 2020

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Normalmente, quando se pensa no conceito da palavra "complexidade", de imediato associamos a uma ideia de "inacessível", "incompreensível" e talvez até exagerado. O grupo A Cor do Som é uma das exceções, que ao longo de mais de quarenta anos de carreira conseguiu executar temas que intrigam os ouvidos mais exigentes, impressionam quem bem conhece música por conta de tamanha técnica e carregam um sentimento bom, que talvez nem exista uma única definição, para quem apenas ouve de relance e é arrebatado pela sonoridade maravilhosa que juntos produzem.

Donos de uma abordagem variada que mescla uma infinidade de gêneros, o grupo é uma referência no que diz respeito à música instrumental. Prova disso é o homônimo trabalho de estreia lançado no ano de 1977, tendo em sua formação inicial Armando Macedo (guitarras, bandolim, violões), Dadi Carvalho (contrabaixo), Mú Carvalho (pianos, teclados) e Gustavo Schroeter (bateria); que é daqueles álbuns que se pode deixar rolar do início ao fim, esteja certo de que não haverá necessidade de selecionar faixas boas em um trabalho que é por inteiro impecável.

O segundo álbum, "A Cor do Som ao vivo no Montreux International Jazz Festival" é fruto da participação no tradicional e conceituado festival suíço, justo na primeira edição onde haveria uma noite dedicada à música brasileira. O grupo contou com a participação do também guitarrista Aroldo Macedo, irmão de Armandinho, além do percussionista Ary Dias que viria a se tornar membro fixo chegando assim à formação clássica que conhecemos.

O trabalho formado em sua maioria por material quase todo inédito, contando com poucas músicas  presentes no álbum de estreia, apresentou composições dos próprios membros do grupo, passando por "Brejeiro" (Ernesto Nazareth), a roqueira "Cochabamba" (Moraes Moreira / Aroldo Macedo) até fechar com um versão para "Eleonor Rigby" (John Lennon/ Paul McCartney) capaz de levar qualquer folião atrás de um trio elétrico no Carnaval de Salvador.

A partir do terceiro álbum, números cantados foram incorporados ao repertório, coisa que até então só havia acontecido na faixa "A Cor do Som" do álbum lançado no ano de 1977; levando o grupo a um maior sucesso comercial, mas ainda assim sem abrir mão por completo dos virtuosos temas instrumentais.

Ao longo dos anos houve mudanças na formação, levando o grupo a contar com músicos como os irmãos Didi e Jorginho Gomes, além do querido Victor Biglione e o saudoso Perinho Santana.

No ano de 1996, com a formação original, se reuniram para gravar o álbum "A Cor do Som Ao Vivo no Circo" e no ano de 2005 na casa de shows carioca Canecão, realizaram a apresentação que viria a gerar o CD e o DVD "A Cor do Som Acústico", e sim! Eu estava lá.

Me recordo de ver um público de mais idade, fãs do trabalho do grupo desde os primórdios, e eu na casa dos vinte e bem poucos anos, sozinho, despertando os olhares curiosos, talvez por ser um dos mais jovens presentes, até o momento em que fui abordado por dois simpáticos senhores que perguntaram:

- Mas o que você, tão jovem, faz aqui? Não deveria estar em uma festa para pessoas de sua idade?

E eu respondi:

- Sou muito fã do grupo, não poderia perder essa chance. Os ouço desde criança por influência dos meus pais.

Fui surpreendido com sorrisos e o convite para me sentar mais próximo do palco, onde um dos senhores se apresentou como primo de Ary Dias.

Se eu topei? Claro! Havia juntado moedinhas para comprar meu modesto ingresso para um lugar que de tão longe eu quase estaria sentado na praça de alimentação do vizinho Shopping Rio Sul, mas para ver A Cor do Som tudo era válido.

Bem! Não sei se de fato havia algum parentesco entre aquele senhor e Ary Dias, por mais que eu não tenha motivos para duvidar, mas uma coisa eu garanto, graças a eles eu me vi em um lugar onde literalmente sem o menor esforço poderia tocar o palco e até hoje sou imensamente grato por isso.

Na condição de muito fã do grupo e conhecedor de todo a obra, fica até difícil eleger favoritas, mas para entender o que é A Cor do Som, vale ouvir o primeiro álbum, talvez com maior atenção para as faixas "Na Onda do Rio", "De Tarde na Liberdade" e "Sambavishnu"; pode ser um ótimo começo. 


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