Garota FM

Outubro de Renato Russo e Belchior: em comum, os versos seguem atuais

sábado, 16 de outubro de 2021

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No mesmo mês em que se comemoraria o aniversário de 75 anos de Belchior, se ele estivesse vivo, também são lembrados os 25 anos da morte de Renato Russo. O que eles têm em comum? No âmbito público, o fato de serem artistas que, pelas mãos de seus fãs, tornaram-se messiânicos. Mais especificamente em meu mundo particular, trata-se de dois nomes que tive o prazer de biografar em livros meus e que me ensinaram o quanto suas palavras se mantêm sempre atuais. 

Renato Russo morreu em 11 de outubro de 1996, vítima da Aids. Com os fãs ficou a missão de levar sua mensagem adiante, de não deixar que seus questionamentos fossem esquecidos. E, ainda hoje, percebemos o quanto são atuais versos como “Nas favelas, no Senado / Sujeira pra todo lado” (de “Que País é Este”) ou “Quando nascemos fomos programados / A receber o que vocês / Nos empurraram com os enlatados / Dos U.S.A., de nove às seis” (de “Geração Coca-Cola”). 

No meu livro lançado em 2016 pela editora LeYa, o “Discobiografia Legionária”, eu conto as histórias das gravações dos álbuns da Legião Urbana e mais coloco na boca do vocalista da banda as análises sobre sua obra do que mergulho nesse recorte, como faz a pesquisadora Julliany Mucury no livro “Renato, o Russo”, que tive o prazer de editar pela editora Garota FM Books e está sendo lançado neste outubro de 2021. Em um dos capítulos do “Discobiografia Legionária”, escrevi: 

“As letras de ‘As Quatro Estações’ também geraram polêmica entre os mais cristãos. ‘Como o lado contestador não foi revitalizado, as pessoas estão atentando para o lado religioso das letras das músicas, mas desprezam as mensagens políticas presentes em quase todas as faixas’, disse Renato Russo ao jornal O Dia, na época do lançamento do LP”.

Belchior morreu em 30 de abril de 2017, aos 70 anos, e deixou também um legado que cada dia ganha mais força e potência entre os jovens. O artista andou esquecido pelas mídias e, consequentemente, pela maioria dos brasileiros. Até que, ao ganhar fama nacional após uma suposta fuga – que eu e o jornalista Marcelo Bortoloti narramos no livro “Viver é melhor que sonhar: Os últimos caminhos de Belchior”, lançado em 2021 pela Editora Sonora – o cantor e compositor caiu novamente no gosto da juventude e virou mais um desses artistas endeusados após a morte. 

Se não tivesse sofrido um rompimento na aorta, em 26 de outubro de 2021 ele completaria 75 anos. Nós seguimos achando atuais versos como: “Eles venceram e o sinal está fechado pra nós / Que somos jovens” (de “Como nossos pais”) ou “Presentemente eu posso me considerar um sujeito de sorte / Porque apesar de muito moço, me sinto são e salvo e forte / E tenho comigo pensado, Deus é brasileiro e anda do meu lado / E assim já não posso sofrer no ano passado” (de “Sujeito de sorte”). 

Neste outubro de 2021, além de falar sobre eles em episódios do recém-lançado podcast “Caçadores de Histórias: Por Trás das Biografias” – em que eu e meu anfitrião, o jornalista e também biógrafo Julio Maria, debatemos as dores e delícias de se escrever a vida de alguém, com convidados ilustres – eu ando sendo bastante instigada, em entrevistas e conversas com meus pares, a pensar sobre o legado desses dois artistas e no que teriam se transformado caso ainda estivessem entre nós. E não tenho a menor dúvida de que ambos são alguns dos maiores pensadores da história de nossa música e, se vivo fossem, estariam totalmente contra o atual governo e denunciando em versos as injustiças sociais e os preconceitos que seguimos testemunhando por aí. 


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