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2017: geral ainda tá sentindo

Por: Júlia da Matta

quarta, 23 de outubro de 2019

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‘O que há no amor que eu ainda insisto?’
É que ‘life Is not as easy as I thought it would be’.


A primeira frase é o questionamento com o qual Letrux arranca arrepio na madrugada da última sexta, e de novo quando o reli nas notas salvas. A segunda é trecho de “5 years old”, última faixa de “Letrux em Noite de Climão” (2017).

"Eu aceito as minhas outras vidas", única frase em português da música. 


De cima do palco a tijucana (RJ) lança: “Muito obrigada por terem vivido comigo todos os pontos e vírgulas todos os predicados mas agora é hora de um ponto final”.


Mais ou menos dois anos atrás ela estava avisando pra geral que aquilo ia render. Rendeu muito, botamos na cabeça, no corpo, nas festinhas, nas praças, no fone, ouvimos no banho, na praia, na farra e na fossa, sem disfarce.

Se vestiu de lagosta. Bicho com carapaça, desuniforme, antenas longas.


Geralmente saem em busca de alimento na noite e durante o dia se escoram em pedras. O cérebro da lagosta fica mesmo na garganta? Cientistas dizem que só morrem por causas externas. Imortais? Pinça nas patas. Escutar pelos pés? Fino de ser degustado por humanos. 

Leticia Novaes e Lucas Vasconcellos, Letuce - churrasquinho no espaço acústica - o tempo passa. Às vezes a gente precisa visitar o passado, ou voltar pra ir embora de vez. Vai entender de ex-namoros, nem do nosso, quiçá dos outros. Não é sobre isso. Tudo que é perfeito dá defeito cedo ou tarde.


Parceria acaba, casamento acaba, amizade que fica - alguma coisa sempre fica - reencontros no palco e no mesmo salão. Em forma de enxurrada nos entrega uma realidade autêntica, inconfundível: enquanto Letuce já dizia que nunca precisou andar de mão dada, Letrux acerta o alvo, não vem me dizer que você sonhou comigo


Cê sabe circular e convida a voltar lá trás enquanto ecoa "eu e minha namorada, ela é o namorado dela" (Raça Negra). É nostalgia, disposição pra cafonice que é esse role difícil e doido de ser alguém no mundo. E o público vai - só vai - até porque vai dar trabalho cobrir essa tinta que o climão deixa na pele (e na história) da gente.


Letrux vira sereia, te sequestra, morre com você no fundo do mar, quente grande e forte como precisamos sentir, ou contar que sentimos. Uma noite inteira de climão, magia colorida diante dos olhos, coisas da vida materializadas no tempo e no espaço.


Entre as musicas, pontuações afiadíssima. Declara: "vocês não fazem ideia, quantas vezes pensei tocar no palco do Circo", como algo muito distante do que se dava ali. E olha, ela cai muito bem nesse lugar. Sorte é coisa além de cavalos. Sorte tem os palcos por receberem toda essa composição psicodélica rouca firme oscilante, risos e dramas. Morre a pele. Sobra vida. Somente pra quem curte o desvio.


Cantar deve ser muito absurdo como ela mesma escreveu no pós show, não sei.. Ouvir suas vozes, entre batidas e guitarras, em diferentes entonações, no centro da noite mais fervida do Rio de Janeiro, o corpo mexe involuntariamente.


A Lapa sexta-feira à noite - clima que rodeia o Circo Voador - com a plateia que ela faz, não pergunto por ninguém. Absurdo e hipnotizante!



*em itálico/laranja parafraseando músicas do disco dela, e uma da Marina Lima (Uma noite e Meia)



Texto de: Júlia da Matta
Fotos de: Michelle Castilho




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