Supersônicas

O samba do Criolo lúcido

quarta, 28 de junho de 2017

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Criolo Doido é nome de sambista: Jorge Francisco da Silva, carioca de Cascadura, que estourou, em 1979, com “Pega eu”, gravado por Bezerra da Silva. Mas Criolo Doido também foi o nome artístico adotado pelo rapper Kleber Cavalcanti Gomes, paulistano do Grajaú, nascido em 1975, que projetou-se nas Rinhas dos MCs, versando a mil por hora.

Nas voltas que o mundo dá, com o nome encurtado, após marcantes petardos na área do rap e adjacências (“Nó na orelha”, 2011, “Convoque seu Buda”, 2014, “Ainda há tempo”, 2016), Criolo cai no samba, de cavaco, violão 7 cordas, cuíca, surdo, trombone e flauta em “Espiral de ilusão” (Oloko Records).  

Co-produção dos habituais parceiros Daniel Ganjaman e Marcelo Cabral, o disco tem dez faixas autorais solitárias, com exceção de “Hora da decisão” (Ricardo Rabelo/Dito Silva) e o sincopado fronteiriço ao samba de breque “Filha do Maneco” (Criolo/Ricardo Rabelo/ Jefferson Santiago), história de uma paixão perigosa pela filha de um traficante.

Atabaques e agogôs introduzem “Calçada”, no que poderia ser um afro samba , mas que, escoltado por coro, deságua no ritmo primal: “eu sofri sem perdão/ não consegui admitir a situação/ esqueci de fechar uma porta e uma janela/ de uma outra casa/ toda a verdade veio na minha calçada”.

As letras de Criolo são sempre surpreendentes, como no samba lento, cadenciado, “Hora da decisão”: “O tempo fechou na favela/ é fera engolindo fera/ quem não tem proceder/ já era/ se a falange do mal tá pronta/ e a paz teve que sair/ da brincadeira real de polícia e ladrão/ o toque é de recolher pra não haver correria”.

Sem filiar-se especificamente à corrente do “samba paulista”, de Adoniran e Vanzolini a Gudin e Toquinho, Criolo exibe traquejo no ramo e ainda deixa no ar uma advertência oportuna: “Este abismo social requer atenção/ (...) meninos mimados não podem reger a nação”. 

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