Supersônicas

Em livro minucioso a trajetória de Canhoto, um dos pais do violão brasileiro

sexta, 16 de março de 2018

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Paulistano, filho de imigrantes italianos, pintor de painéis, compositor, instrumentista, professor de violão e funcionário público, Américo Jacomino, o Canhoto (1889-1928) ganha minuciosa biografia e análise de sua trajetória, que está na base do desenvolvimento da escola do violão brasileiro. “Abismo de rosas – Vida e obra de Canhoto” (Edições SESC, 168 págs.) origina-se de uma tese de doutorado do professor e pesquisador Sérgio Estephan desenvolvida na PUC-SP entre 2003 e 2007, sob orientação do professor de História Contemporânea, Antonio Rago Filho, herdeiro de outra sumidade do instrumento, Antonio Rago (1916-2008), que anota no prefácio:

“Por meio de sua criação e atuação no ambiente cultural, Canhoto foi responsável por tornar o violão acústico parte da existência da maioria da população brasileira. (...) Ora dedilhando, ora harpejando, ora tremulando, ora batucando, ou na forma do rasgueado ou do pizzicato, esse instrumento, aparentemente limitado, feito de madeira e cordas, podia parecer uma orquestra em suas mãos”.

Incluída aí a particularidade que valeu o nome artístico ao autor de “Triste carnaval”, “Arrependida”, “Reminiscências”, “Tico-tico no farelo”, “Marcha dos marinheiros”, “Vâmo, Maruca, vâmo”, “Magia do olhar”, “Uma noite em Copacabana”, “Uma noite em Ipanema” e do megaclássico “Abismo de rosas”: ele executava o dedilhado ao violão com a mão esquerda, sem inverter as cordas do instrumento, como ressalta no texto de apresentação Danilo Santos Miranda, diretor regional do SESC São Paulo.

O ponto de partida do livro de Estephan, além da extensa pesquisa bibliográfica foram os registros fonográficos obtidos no acervo do colecionador (e violonista) Ronoel Simões: 55 gravações interpretadas ao violão pelo próprio biografado, sendo que 16 realizadas com seu conjunto o Grupo do Canhoto. Foram identificadas 48 composições de Canhoto, além das 86 já conhecidas e relacionadas pelo pesquisador Juvenal Fernandes.

O primeiro capítulo do livro traz uma reflexão sobre a música instrumental brasileira na virada do século XIX para o XX, em foco o choro, base da produção musical de Garoto. Mas há também uma prospecção das ligações do violonista paulistano com a música para violão na América do Sul, o que inclui o mestre paraguaio Augustin Barrios e o ás do tango, Carlos Gardel. O musicólogo Paulo Castagna ainda indaga se Canhoto situava-se no universo musical erudito ou popular. “Talvez, ambos”, conclui. Numa época em que as atividades culturais eram mescladas (teatro, cinema, circo, música) em 5 de setembro de 1916 (no ano do registro do “Pelo telefone”, oficialmente o primeiro samba), Canhoto realizou um histórico concerto no Conservatório Dramático e Musical de São Paulo. No repertório, suas composições “Suplicando amor”, “Magia do olhar”, “Medrosa”, “Sonhando”, o tango “A cigarra na ponta”, o dobrado “Campos Sales” e em “Cateretê”, uma imitação de viola caipira. Entre outras atrações, o revistógrafo Danton Vampré (“São Paulo futuro”, “A Freguesia do Ó”) leu a conferência de Manuel Leiroz sobre o violão, o primeiro documento escrito no país a respeito das origens do instrumento. Com sua virtuosa e incisiva atuação, Canhoto abriu as portas dos salões da elite para o violão, instrumento ainda proscrito por injustificável preconceito de classe.



ABISMO DE ROSAS: Vida e obra de Canhoto
SÉRGIO ESTEPHAN
Edições Sesc São Paulo
2017, 168 p.
19 x 25 x 1,5 cm
412g
ISBN 978-85-9493-038-5

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Fonte da imagem: SESC-SP |  Imagem: Acervo Edições Sesc




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